Ficou para a semana que vem a instalação da CPI da Covid. Apenas um de seus 18 integrantes, titulares e suplentes, dá sinais de que não agirá visando às eleições do ano que vem. No mínimo 14 serão candidatos, à reeleição ou a governo estadual; outros, com mandato de senador ainda no meio, vão fazer campanha por seus candidatos. Talvez apenas o senador Marcos do Val, do Espírito Santo, decepcionado com a política, não vai estar interessado em outubro do ano que vem.

A criação da CPI foi um ineditismo institucional. Um único ministro do Supremo mandou abrir e o presidente do Senado leu o requerimento ainda na véspera de o Supremo examinar a liminar. O Senado prostrou sua independência e no dia seguinte o Supremo deu o tiro de misericórdia. O senador Fernando Collor lembrou que o Supremo poderia simplesmente ter respondido a Kajuru que o requerimento de CPI havia cumprido as exigências legais. Essa seria a resposta na época em que Collor foi presidente. Seria acrescida da afirmação de que a oportunidade de levar ao plenário é assunto doméstico, interna corporis, de um poder independente. Inclusive porque já havia outra CPI pronta, a das ONGs da Amazônia, com tudo para começar, parada pelas prioridades da pandemia. Seu autor, o senador Plínio Valério, reclamou do fura-fila mas não foi ouvido. A prioridade passou a ser a ordem de Barroso.

Entre titulares e suplentes, além de interessados na eleição do ano que vem, há dois pais de governadores. O que fará Renan Calheiros se investigarem verbas federais destinadas a Alagoas, onde o governador é seu filho? Jáder Barbalho é primeiro suplente da CPI. O que fará ao investigarem a parede falsa que escondia 19 respiradores? A Polícia Federal já pediu o indiciamento de Helder Barbalho por compra de respiradores; o Ministério Público já pediu o afastamento do governador.

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A CPI, assim, será um grande palanque para 2022. O sensato seria esperar a pandemia passar e fazer uma investigação ampla sobre as responsabilidades de todos, os desvios, os erros, as falsas causa mortis, as falsas aplicações de vacinas, as campanhas do medo, os lockdowns sem resultados positivos, as mortes que poderiam ser evitadas com tratamento, as empresas fechadas, o desemprego, as mentiras. O corona certamente não foi responsável sozinho por tanto sofrimento. Pela eleição de 2022, sepultou-se no Senado a lógica de concentrar esforços no combate à pandemia e a suas sequelas econômicas. A lógica que sobrou é a ideológica.

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