Nessa sexta-feira, 13, no Rede Social, programa da Rádio Gazeta 107,9 FM que apresento com meu amigo Leandro Porto, conversamos com o Rafael Giguer. Quando li a matéria que saiu no mesmo dia na Gazeta do Sul sobre ele, pensei: precisamos trazer esse assunto para a pauta do Rede.
O Rafael é deficiente visual e contou que, certa vez, enquanto aguardava o transporte coletivo em uma parada, fazendo o uso da bengala e de óculos escuros, pediu a uma senhora se ela poderia ajudá-lo. A resposta que ouviu foi: “Eu não tenho dinheiro”. Ainda chocado, levando em conta que não tinha pedido ajuda financeira, Rafael concluiu aos microfones da Gazeta: “Essa senhora nunca conviveu com pessoas com deficiência. Se ela tivesse tido um colega de escola ou um colega de trabalho com deficiência, já saberia que pessoas com deficiência numa parada de ônibus podem estar querendo ir ao trabalho, não necessariamente pedindo dinheiro”.
A fala dele, obviamente, repercutiu em mim. Não tive uma convivência próxima na rotina escolar com um colega com deficiência, por exemplo. Ainda assim, mentalmente tento me tranquilizar de que teria outro comportamento ao receber o pedido de ajuda. Outro momento da conversa com o Rafael trouxe para mais uma reflexão. Ele explicava sobre o modelo social da deficiência. Por essa perspectiva, a experiência da deficiência decorre das pessoas que têm uma diversidade humana estarem inseridas em uma sociedade que ignora as suas necessidades. “O que cabe à sociedade é adaptar-se para que todo mundo tenha os mesmos direitos”, afirmou.
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Essa frase, cheia de significados, pode ser levada para outros tantos exemplos. Além da justiça de promover o acesso igualitário a direitos básicos para pessoas com deficiências, não seria lindo possibilitar uma vida com acesso aos direitos mais básicos e inerentes à dignidade humana para negros, pessoas LGBTQIA+, mulheres, pessoas em situação de vulnerabilidade social, indígenas e tantos outros grupos que muitas vezes são marginalizados? Penso que sim, ainda que pareça muito utópico e tenhamos tanto a aprender e evoluir.
Em um mundo cercado por preconceitos, falta de empatia, machismo e xenofobia, temos o compromisso coletivo de evoluir e prezar pelo bem-estar do próximo. Quais são as suas referências e qual é a sua disposição em ampliar sua visão de mundo? Você, privilegiado(a) como eu, está disposto(a) a tornar o mundo em que vive mais acessível, plural, aberto, justo, igualitário? O que podemos fazer diferente?
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