A prioridade máxima do ser humano é a sobrevivência. De nada adiantaria lutar por qualquer outra coisa, mas atentar contra a vida. Também por isso, espera-se que um ente público coloque a subsistência (logo, a saúde e a segurança) da população como prioridade máxima. Tendo presente essa premissa inviolável, de que cada um busca a sua subsistência, a saúde está, de fato, acima de todo o resto. E saúde pressupõe a manutenção do organismo sadio (alimento, moradia digna, higiene pessoal, vestimenta), com os cuidados médicos sempre que necessário. Mas não só.
A saúde do corpo é apenas parte do processo. Há ainda a saúde da mente, a outra metade do que se deve compreender como um indivíduo inteiro e íntegro. E, no mundo contemporâneo, não raro, o entendimento é de que as necessidades do corpo se resumem a atender às prioridades do físico, esquecendo por completo da metade que é a mente, fascinante área em que se mesclam alma e coração.
A decorrência é que sociedades impelidas a armazenar bens materiais dedicam pouca ou quase nenhuma atenção ao mental, ao intelecto, entendido apenas como rapidez de raciocínio (“esperteza”). Leitura, discernimento, aprendizagem, justamente o que constitui a verdadeira bagagem pessoal, a riqueza íntima do ser humano, porque lhe proporciona a reflexão e a capacidade do juízo crítico e de agir de forma positiva e efetiva sobre o mundo que o cerca, são entendidos como… supérfluos! É a bovinização da humanidade.
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Nesta semana, cogitou-se sobretaxar os livros no Brasil, porque tidos como itens de consumo de uma elite. Só sociedades que atestam uma completa indigência cultural limitariam ou negariam o acesso irrestrito de toda a sua população a livros, revistas, jornais. O movimento a ser feito é o exato oposto: a leitura deve ser democratizada ao ponto em que livros (revistas, jornais) possam estar acessíveis a todas as faixas da população, porque a leitura liberta, proporciona a tomada de consciência e desperta vocações e dons. Enriquece. A leitura é o fermento para alguém partir em busca da sua realização pessoal. Para conhecer. E se conhecer.
A leitura, no Brasil e em qualquer nação, deve ser entendida como prioridade máxima, à altura da sobrevivência como pessoa. Como o alimento mantém o corpo, a leitura é indispensável ao intelecto. Não existe educação sem leitura, e quando um país dispensa a leitura, exclui a educação de entre suas prioridades. Ler (livros, jornais, revistas, receitas de bolo, bulas de remédios) é absorver conhecimento e sabedoria, tomar posse de si enquanto pessoa, enquanto cidadão, e lapidar o juízo crítico acerca da própria vida, e sobre a sociedade. Quando um governo (qualquer governo) sugere que ler não é importante, relevante, prioridade, intui-se que isso interesse a ele (ao governo), se lhe convém conduzir um povo que não lê, e não sabe. Só não deveria, sob hipótese alguma, interessar ao próprio povo, por ele estar do lado que é impedido de ler, entender. E saber. Cabe a cada um lutar por si e pelos que quer bem. Lendo. Bom final de semana. De preferência, com leitura.
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