Há poucos dias o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o número da inflação oficial do Brasil em 2017: 2,95%. Como assim, perguntam-se as pessoas,  2,95% de inflação durante o ano de 2017, se só a gasolina aumentou 10,32%; o gás de cozinha, 16%; e a energia elétrica, 10,35%? “Lá em casa, a inflação foi mais alta…”, reclamam muitos. O índice anunciado ficou abaixo até do piso de 3%, na meta de 4,5%  esperada pelo governo federal. Por qualquer lado que se olhe, foi o menor Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)  desde 1998; foi menos da metade dos 6,29%, registrados em 2016, e, certamente, mais longe dos 10,62%, de 2015, que poderiam ter sido 14% ou mais,  não fossem algumas “forçadas” de mão da presidente Dilma, determinando baixar na marra o preço de alguns itens, administrados pelo governo.

Qualquer livro básico sobre economia diz que inflação é o aumento geral e sustentado de preços, durante um tempo. As pessoas sabem que inflação é aumento de preços. Só que  aumento de preço de um ou mais produtos ainda não caracteriza um processo inflacionário. Pode até levar a isso; é o caso do aumento dos combustíveis porque  esses  tem um efeito  multiplicador de custos muito grande. Com o aumento do diesel, por exemplo, aumenta o transporte urbano, o transporte de mercadorias e outros itens que dependem desse insumo. Esta seria a inflação de custos.

Já quando existe a procura muito grande por produtos ou serviços, em decorrência do aumento de renda das pessoas ou da possibilidade da falta de produtos, ocorre a inflação de demanda; por “efeito manada”, todo mundo corre para fazer estoques e, percebendo essa corrida, os fornecedores aumentam os preços, maximizando seus lucros. Muitas vezes, o mesmo acontece  em casos de enchentes ou temporais, quando há uma necessidade muito grande de determinados materiais de construção, o que faz com que alguns comerciantes, vendo a oportunidade de ganhos maiores, aumentam os preços.

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Entretanto, tanto a inflação de custos quanto a de demanda  são apenas consequências de um processo inflacionário que é gerado pelos governos. Já vivemos muito isso, aqui no Brasil – nos anos 80, a inflação chegou a 80% num mês!  Governos usam a inflação para se financiarem, emitindo cada vez mais dinheiro o que acaba desvalorizando o dinheiro que circula no mercado. Trata-se de um verdadeiro imposto inflacionário e quem paga a conta é o povo, principalmente os mais pobres. O pior é que, querendo estancar o reajuste  contínuo de preços, governos aproveitam-se  da ignorância e da ilusão  das pessoas que acreditam que cabe aos governantes   resolverem o problema, quando, na realidade, são eles que  os criam, e lançam planos mirabolantes, geralmente com a inclusão de congelamentos.  Na prática, desde o Egito antigo, passando pelos vários planos econômicos tentados, no Brasil,  até a atual Venezuela, os congelamentos não funcionam. Congelamentos ou “um pouco de inflação faz bem para o país”, defendido por esquerdistas ou “progressistas”, como eles se autodenominam, interessados apenas em votos, porque, na prática, esse tipo de política só gera atraso e pobreza.

Voltando à inflação do ano passado, o número oficial gerou críticas e comentários, alguns até impublicáveis, além de memes na internet, como um que dizia que o índice era verdadeiro apenas para o Jornal Nacional. A maior reclamação é que  a inflação anunciada, pelos vários institutos de pesquisa, não é a mesma que  é constatada, no dia a dia das pessoas e das famílias. Isso é verdade e por uma razão muito simples: certamente, essas pessoas ou essas famílias consomem mais itens que sofreram reajustes de preços maiores. É que os índices de inflação são apurados mediante a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços. No caso do IPCA, são pesquisados mais de 400 itens, em nove regiões metropolitanas do Brasil, num leque  tão amplo que inclui frutas, hortigranjeiros, passagens, alimentos, produtos de higiene e limpeza, prestadores de serviços  e, é claro, a gasolina, o gás de cozinha, a energia elétrica, além de outros. Cada item dessa lista tem um peso relativo no índice geral. O aumento de 10,32% no preço da gasolina, por exemplo, puxou o IPCA para cima em 0,41  ponto percentual.  

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Em tempos de desconfiança generalizada  com órgãos e instituições públicas, muitos acreditam que o índice de 2,95% do IPCA seria mentiroso ou teria sido manipulado.  Pode até ser porque, no passado, já houve casos de manipulação de dados e que, posteriormente, foram desmascarados. No levantamento da variação de preços do ano passado, entretanto, o IBGE constatou que muitos produtos e serviços que fazem parte da cesta do IPCA não tiveram reajuste, e, em alguns casos, até houve redução de preços, como mostrou a matéria sobre o assunto, da Gazeta do Sul de 11/01/2018. Essa variação de preços, para mais ou para menos,  fez com que a média da inflação ficasse baixa.

Então, antes de reclamar que  o índice está errado ou, pior ainda, foi manipulado,  é  importante  fazer um diagnóstico dos gastos pessoais e familiares e identificar quais itens, consumidos ou contratados, subiram mais de preço, no ano passado. Se o gasto maior foi com a energia elétrica  ou a gasolina, é hora de  rever a forma de sua utilização, procurando racionalizar o uso e evitar desperdícios que, certamente, existem. Isso faz parte da educação financeira, ainda tão ausente dos lares brasileiros, mas cada vez mais necessária. 

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