Na definição da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (entidade internacional, com sede na França, formada por 34 países, inclusive o Brasil, que aceitam princípios de democracia representativa e economia de livre mercado) -, “educação financeira é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação possam desenvolver os valores e as competências necessárias para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro. Ao entender melhor o funcionamento dos produtos, a pessoa tem condições de tomar melhores decisões par o uso do seu dinheiro, o que se traduz em benefícios financeiros e favorece ainda mais o seu relacionamento com ele”.
Pode-se afirmar, então, que um dos principais objetivos da educação financeira é ajudar as pessoas a estabelecerem uma relação mais saudável com o dinheiro. Mas, antes, a pessoa precisa fazer uma análise sincera do que ela sente quando ouve a palavra “dinheiro”. É um sentimento positivo ou negativo? De escassez ou de abundância? De culpa ou de gratidão? Jacob Needleman, filósofo americano, em seu livro O Dinheiro e o Significado da Vida, diz que “o dinheiro desempenha hoje um papel de importância sem precedentes em nossa vida interior e exterior, e que qualquer empenho sério no autoconhecimento e no autodesenvolvimento requer o exame do real significado que ele tem para nós.” De uma forma básica, precisamos do dinheiro para tudo e ele controla a vida de todo mundo, pois não é possível viver sem ele, quer gostemos disso ou não. Achar que o dinheiro é responsável por todo o mal que existe no mundo, como muita gente pensa e diz, é desconhecer a origem do dinheiro, concebido como instrumento de troca, em que alguém recebe dinheiro por algum esforço, físico ou intelectual, transformado em produto ou serviço. Na verdade, o dinheiro simplifica a transação de bens e serviços de diferentes valores e qualidades. É nosso principal instrumento, nossa principal tecnologia social.
De ponto de vida subjetivo, o dinheiro pode despertar inúmeras emoções, sendo que as principais são o orgulho, a raiva, o medo, a vergonha e a culpa. Quem tem muito, por exemplo, pode se envaidecer e até gostar de se exibir; ou ter medo de provocar a inveja ou ser alvo de assaltos, roubos ou pedidos de empréstimos que jamais serão pagos, além de os beneficiários desses empréstimos tenderem a se tornarem inimigos; ou, ainda, sentir vergonha ante seus amigos íntimos ou parentes próximos. Já os que tem pouco dinheiro, em comparação com seus amigos e parentes, podem se sentir por baixo e não raramente evitam conversar sobre o tema por vergonha para não exporem suas limitações nesse item. Outros, inconformados com suas limitações, agem de modo leviano e vivem se endividando, com o intuito de quererem ter coisas que, normalmente, não poderiam comprar; gostam de desfilar perante os conhecidos como mais bem-sucedidos do que, de fato, são. É claro que evitam falar sobre dinheiro, pois teriam que inventar histórias para justificar sua aparente prosperidade.
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Perto do quanto se pensa no dinheiro, é curioso observar que se fala pouco sobre ele, constituindo-se ainda um tabu, principalmente nos ambientes mais íntimos, envolvendo casais, filhos, pais. Tem quem diz que damos valor exagerado ao dinheiro, como avalia Rodrigo Zeidan, professor da Fundação Dom Cabral e autor do livro “Vida de Rico sem Patrimônio”. Entretanto, não dar valor ao dinheiro pode criar inúmeros problemas porque, como diz o ditado, “o dinheiro não aceita desaforo”. É alvissareiro o fato de que o tema dinheiro , de uma forma ou de outra incluído ou junto com a educação financeira, está cada vez mais presente nas pautas de jornais, revistas, rádios e televisão, além de palestras, cursos e, como não poderia deixar de ser, em sites da internet, embora, eventualmente, alguém, na contramão, acha que o assunto já foi suficientemente abordado.
Falar sobre dinheiro não significa fazer de nossas vidas um conjunto de cobranças, controles, planilhas e leituras sobre economia e finanças. É estabelecer um jogo aberto que fortaleça a relação do casal e dos familiares e, principalmente, que os estimule a, eventualmente, ter que fazer alguns sacrifícios e se esforçar para conseguir algum objetivo ou enfrentar alguma crise financeira. É importante que as famílias, sob qualquer configuração que estejam estabelecidas, conversem sobre suas finanças e consigam chegar a decisões que sejam as melhores para todos. Nesse sentido, o ideal seria que as pessoas já alinhavassem seus interesses e objetivos, além de identificarem seus perfis de consumo e investimento, antes de decidirem morar juntas. Muitos desentendimentos nos relacionamentos, acabando até em separações, são causados por incompatibilidade na forma de lidar com o dinheiro no dia a dia. E a crise econômica, pelo qual o Brasil está passando, pode afetar ou ser complicador para os relacionamentos. Mas, essa crise, como tantas outras que já ocorreram, também passará e os casais e famílias que souberam conviver com ela equilibradamente, com diálogo e compreensão, confiando em Deus e fazendo sua parte, estarão mais unidos e colherão os frutos de sua disciplina financeira.
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Como diz o médico psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Flávio Gikovate, “não deixa de ser fascinante pensarmos que uma simples e sábia invenção humana acabe por se transformar em algo extremamente complexa e de importância capital, capaz de mobilizar todas as emoções humanas. Afora a saúde, o dinheiro disputa em importância apenas com os assuntos relativos à vida sentimental. O dinheiro não pode ter o poder de controlar nossa vida e isso se consegue, justamente, tendo tanto que nem precisa se preocupar com ele. O caminho é adotar uma postura positiva com relação à geração de renda, não tendo vergonha de dizer que quer ficar rico e não ter preconceitos contra quem já é. A partir daí, encontrar uma forma de geração de renda que permita uma sobra entre o que se ganha e o que se gasta para se sentir mais seguro e poder dizer, com firmeza, que o dinheiro não controla nossa vida, mas nós é que o controlamos.”
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