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LITERATURA

A hora e a vez de Clarice Dörr: escritora estreia coletânea de contos

O Vale do Rio Pardo registra uma estreia em publicação de narrativa curta, estreia que, embora tardia, foi longamente almejada e planejada. A professora aposentada Clarice Dörr, 67 anos, natural de Estrela mas radicada desde o final da adolescência em Venâncio Aires, acaba de lançar Zinka, o primeiro volume de contos, em edição independente, pela Casa do Escritor, reunindo 11 textos que proporcionam um recorte da escrita dela ao longo dos últimos anos.

Com temáticas que remetem à situação feminina no mundo contemporâneo e também em termos existenciais e de perspectivas, bem como evidenciando olhar sobre problemáticas sociais e culturais, a obra convida a reflexões maduras sobre a condição humana. Em Santa Cruz do Sul, pode ser encontrada na Iluminura, por R$ 35,00, e também está em livrarias de Venâncio Aires.

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E leitura é hábito regular da própria autora, aliás formada em Letras – Inglês pela antiga Fisc, atual Unisc, em cujo curso foi aluna, por exemplo, do professor Elenor Schneider, referência na formação de leitores para sucessivas gerações em todo o Estado. Posteriormente, como Clarice referiu em entrevista por telefone para o Magazine, ainda concluiu Direito, embora sem ter atuado na área, também em Santa Cruz.

Por aqui, quando menina, chegou a estudar por alguns anos no antigo Colégio Sagrado Coração de Jesus, residindo com os tios, que eram proprietários do Hotel Americano. Foi em Venâncio Aires que cumpriu a trajetória no magistério, em escolas estaduais e particulares, lecionando principalmente para turmas de Ensino Médio, em preparação para o vestibular.

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Nesse contexto, estimulava e orientava leituras, de escritores nacionais e estrangeiros. Revela predileção por autoras como Clarice Lispector e a contemporânea italiana Elena Ferrante, aprecia Rubem Braga e Murilo Rubião, confere prosa e poesia, e menciona obras de reflexão mais ampla, como A origem dos outros, da Nobel norte-americana Toni Morrison, e A tirania do mérito, de Michael J. Sandel. Em paralelo ao trabalho como professora, e inspirada pelas
leituras, escrevia poesia e narrativa curta e longa, e algumas das produções foram compartilhadas em antologias.

“Mas, no ano passado, me dei conta de que era chegada a hora de publicar um livro autoral”, enfatiza. Assim nasceu Zinka (título tirado de um dos contos, o terceiro). Os enredos partem, de algum modo, de situações que possa ter
vivenciado ou de que tomou conhecimento. “Não são autobiográficos, claro, mas a gente certamente escreve a partir daquilo que nos toca ou que nos impressiona”, frisa. Aposentada, pode se dedicar quase integralmente ao hábito da leitura e a seguir escrevendo, enquanto curte a família – os filhos Andréa Heinen e Rian Heinen. Ambos médicos, residem em Balneário Camboriú, e a filha Tamara Heinen, advogada, mora em Venâncio Aires. Do relacionamento com Valdir Heinen, ainda teve o filho Henrique, falecido.

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E com a experiência da publicação do primeiro livro de contos, Clarice planeja a possível estreia na poesia, reunindo material para um primeiro livro nesse gênero. Nesse meio tempo, participa com narrativa curta da antologia As matriarcas, da editora Cartola, em que rememora a avó paterna, dona Frida Dörr, de Estrela. “Tenho como processo reler e retocar ao longo do tempo os meus escritos, e fiz isso também com os poemas”, enfatiza. “Mas penso que também chegou a hora de publicá-los”. Enquanto esse projeto não se concretiza, estão aí os contos de Zinka para embalar e inspirar os leitores.

No quarto, inquieta, procurava entender o que acontecera. Alguém a achara bonita. Ela. Beleza da família! Riu sozinha. Parecia uma brincadeira. Ou seria sério? Deboche talvez. Não. Tia Nora não faria isso. Devagar pegou o pequeno espelho do quarto que mostrava apenas o rosto juvenil de olhos escuros e pele branca. Tia Nora a
achara bonita. Dentro de si, devagarinho, surgia um sentimento estranho. Alguém a notara, lhe dera valor, haviam lhe feito um elogio! Sutilmente, uma pessoa diferente brotava dentro dela. Passara a ser uma mulher para si e para os outros? Ela, que sempre observara, tinha sido notada? O que faria com isso? Ainda não sabia. Envergonhada, com o coração ainda aos saltos, tinha se tornado visível!”

Trecho do conto “Despertar”, de Clarice Dörr

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