Ao abrir a Assembleia Geral da ONU, o presidente Lula falou contra a guerra e criticou os membros permanentes do Conselho de Segurança, que têm poder de veto e fazem guerras. O Brasil quer ser membro permanente – já que também foi nação vitoriosa na II Guerra. O presidente dos Estados Unidos, que falou depois, concordou com Lula, pregando a necessidade de mais vozes no Conselho de Segurança. Hoje os presidentes Lula e Biden se encontram, em Nova Iorque. Foi uma presença forte do Brasil, diante de representantes dos 193 países membros das Nações Unidas. É desejo do Brasil ter um protagonismo mais significativo nas questões mundiais; mas teria o país um Poder Nacional para sustentar uma posição maior, mais decisiva?
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Não parece que estejamos em situação de grandeza política para isso. O chefe de Estado, que deveria ser um estadista, é mais afeto às questões menores da política, assuntos provincianos, pessoais. O Brasil se apresenta grande na ONU, mas fica com aspecto de propaganda. Na prática, conforma-se com o objetivo de ser uma liderança regional. Não fossem os desastres econômicos dos regimes argentino e venezuelano, certamente teríamos séria concorrência no campeonato regional de poder e influência.
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Além disso, misturamos política com comércio exterior. Ter a China como principal parceiro comercial não exige que elogiemos o regime autoritário comunista chinês. Nossas relações internacionais misturam diplomacia com ideologia e hoje estamos colados na Venezuela, Argentina, Cuba, Nicarágua, China e Rússia – só para citar alguns países que, por coincidência, não são exatamente democracias.
Além disso, nossa tentativa de liderança mistura o estilo de clientelismo usado dentro do país, com política de boa vizinhança de oferecer créditos de um banco estatal nacional, como se ele fosse uma agência internacional de desenvolvimento. É a projeção do fisiologismo interno para atrair países na ilusão de liderança regional. Para complicar as questões diplomáticas, nosso chefe de Estado faz declarações tomando partido na guerra Rússia-Ucrânia, despreza decisões do Tribunal Penal Internacional, chama os países-membros do Tratado de Roma de bagrinhos, provoca o aliado histórico americano e permite que aportem no Rio navios de guerra do Irã. Agora na ONU desagradou de novo aos Estados Unidos, ao defender Cuba e o Hamas.
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A Índia, que tem a maior população do mundo, desde sua independência em 1947 tem mantido neutralidade, com a qual cruzou a guerra fria. Hoje China-Rússia e Estados Unidos parecem ensaiar uma segunda guerra fria. O governo brasileiro poderia imitar a Índia, mas dá todos os sinais de que já escolheu ficar coadjuvante de um lado.
O Poder Nacional, além do poder político, se compõe do poder econômico, social e militar. No econômico, estamos entre as maiores economias do mundo, produtores espetaculares do combustível mais nobre, o alimento que energiza pessoas. E nosso potencial é maior ainda, em energia limpa, minerais, água potável, terra para produzir alimento, que pode ainda ser multiplicada, a despeito da ideologia antiagro. Mas nosso poder militar é fraco, em disparidade com a riqueza que precisa ser defendida. E nosso poder social é medíocre, com ensino em geral precário e formação política e de cidadania não compatíveis com o primeiro dos fatores de riqueza: a natureza. E Lula, na ONU, criticou o nacionalismo. Seu ex-ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, tem criticado a mediocridade. Com ela, não pode haver grandeza.
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