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GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

A grande sala escura

Gosto de ir ao cinema. Mesmo com a conveniência do streaming, continuo achando que a grande sala escura é o lugar ideal para assistir a um filme. Além da projeção em si, há toda a experiência coletiva, com seus prós e contras: o agradável ruído de britadeira da mastigação de pipocas, bate-papos eventuais no meio da sessão, espectadores carentes que bocejam alto para chamar a atenção, gente do seu lado falando ao celular ou atrás, chutando sua cadeira…

Mas, ainda que por vezes maçante, isso faz parte. Se você estiver na companhia de alguém, dificilmente ficará em silêncio o tempo inteiro. E provavelmente vai comer pipocas no balde. Há outros aspectos mais significativos na experiência, os ‘prós”.

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Em uma sala de cinema, compartilhamos emoções com pessoas desconhecidas. Uma cena em especial provoca nosso riso e, na cadeira logo à frente, um estranho solta uma gargalhada. Ou, então, você se comove em algum momento dramático e logo percebe que não é o único; há um “clima” semelhante ao redor.

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Quando a sessão termina e as luzes são acesas, todos se erguem e saem, alheios uns aos outros como entraram. Mas compartilharam algo positivo (se o filme tiver prestado). Talvez especial. Bem, e daí? Uma banalidade escrever sobre isso. Mas qualquer conexão mínima que se estabeleça entre pessoas estranhas parece importante hoje em dia. Nem que seja pela via do escapismo. Da fuga.

Vejamos o que a realidade nos apresentou recentemente. No Dia da Mulher, discurso preconceituoso vomitado por um deputado obcecado pela sexualidade alheia, como se fosse problema dele. (Seria?) No Rio Grande do Sul, três vinícolas denunciadas por envolvimento com trabalho escravo; os empregados eram tratados à base de cassetete e choques elétricos. Continuam chovendo as notas de retratação e desculpas. Já em São Paulo, um homem matou a vizinha a facadas porque ela se queixou do som alto à noite. E por aí vai.

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Pode ser que eu só esteja prestando atenção no copo meio vazio, como dizem. Talvez. Porque meio cheio estou eu disso tudo. Sem munição para tanta guerra. Se o que tiver restado para alimentar a ideia de comunhão entre estranhos, de convívio minimamente civilizado, for o espaço da grande sala escura… que seja. A escuridão fora dela anda muito maior.

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