O prenúncio de temporal virou sinônimo de preocupação para Gilberto Bubolz, de 68 anos. Até mesmo uma pancada de chuva acaba com a tranquilidade do morador da Linha Rio Grande (Wink), no interior de Sinimbu. Basta alguns pingos para sair de casa e verificar o nível do rio. “Se chove à noite e eu estou dormindo, acordo, pego a lanterna e vou até lá. A gente fica com o pé atrás, pensando o tempo todo se vai acontecer de novo”, desabafa.
Para o motorista de ônibus aposentado, que vive com a esposa Gladis Terezinha na residência desde 1976, é difícil esquecer a tarde de 30 de abril. Em quase cinquenta anos, a moradia permaneceu intocada pela água do Rio Pardinho. Há cerca de duas décadas, a enchente chegou ao portão, mas sem provocar estragos. Dessa vez, no entanto, a água quase passou de um metro de altura. As manchas na parede demonstram até onde ela chegou.
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Naquele dia, Bubolz monitorava a situação e manteve contato com a equipe da Defesa Civil de Santa Cruz do Sul. Porém, em pouco tempo, ficou sem internet e sem energia elétrica, o que impossibilitou a comunicação, tanto para receber quanto para passar informações sobre a enchente.
A família saiu de casa logo após as 14 horas. Carregaram apenas documentos. “Foi desesperador. Quando
percebemos que não ia ser como as outras enchentes, saímos o mais rápido possível. Não deu tempo para salvar nada”, relata.
Bubolz estima que a residência permaneceu alagada por menos de uma hora. No mesmo dia, conseguiu retornar para verificar o que havia restado. A cena foi impactante. “Perdemos 90% do que estava dentro de casa, sobrou pouca coisa”, lamenta.
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No dia seguinte, a esposa Gladis foi internada no hospital, após ser diagnosticada com pneumonia. Restou ao aposentado limpar a casa. O trabalho durou cerca de dez dias. “Foi difícil, havia muito lodo. Mas o mais difícil foi remover o cheiro de podridão”, afirma.
Em um certo momento, a filha Daniela orientou ele a não ir para o Centro de Sinimbu. “Se tu não quer te assustar não vai para a cidade. A coisa está feia”, disse ao pai. Para Bubolz, a tragédia seria ainda maior se essa enchente tivesse ocorrido durante a madrugada. “Metade da população morreria afogada”, acredita.
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O morador afirma que ficou cerca de um mês sem luz na residência. Ainda teve dificuldade para comprar produtos e móveis, devido à falta de material para atender a demanda. “Também não tinha montador de móveis o suficiente para atender todo mundo”, acrescenta.
Com muita persistência, ele fez com que a edificação voltasse a ser um lar. Três meses depois, é difícil imaginar que a casa estava tomada pela lama. No entanto, é certo que poderá levar um tempo para a família esquecer os traumas daquela tarde.
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