Preocupação central do setor de tabaco atualmente, o comércio irregular de cigarros provoca prejuízos bilionários, é hoje um dos mais nocivos crimes de fronteira e já é em boa parte dominado pelas grandes facções do País. Os órgãos de repressão, como a Polícia Rodoviária Federal, conseguem conter apenas uma fração do fluxo ilegal.
Diante da gravidade da situação, em fevereiro de 2019 a Gazeta do Sul decidiu trazer a discussão sobre o contrabando para o projeto Caminhos do Tabaco. Desde 2015, equipes de reportagem percorrem anualmente as principais regiões produtoras de tabaco do Brasil para verificar in loco o andamento e as perspectivas para a safra, conhecer as inovações que são aplicadas nas propriedades e observar a importância econômica da cadeia.
O jornalista Pedro Garcia e o fotojornalista Bruno Pedry foram até duas das principais portas de entrada de cigarros paraguaios no território nacional – Foz do Iguaçu (PR) e Mundo Novo (MS). Em três dias de trabalho e 3,5 mil quilômetros rodados de carro, acompanharam operações policiais, testemunharam apreensões em postos alfandegários e conversaram com agentes envolvidos na fiscalização para entender como o crime funciona e observar as suas repercussões.
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Um dos aspectos revelados pelo trabalho foi justamente a associação do contrabando à maior facção criminosa do País, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que é um fenômeno recente. O avanço do PCC sobre o contrabando tem, na visão das autoridades, duas explicações. A primeira é a combinação proporcionada por esse mercado de uma alta lucratividade com um risco relativamente baixo, já que as penas são bem mais brandas do que no tráfico de entorpecentes. A segunda é o fato de, nas penitenciárias, via de regra dominadas pelas facções, o cigarro ser utilizado como moeda corrente. O movimento do PCC também confirma a tendência de aproximação do contrabando com o narcotráfico. Em busca da segurança e do lucro, quadrilhas especializadas em comercialização de drogas vêm se expandindo e, em alguns casos, até migrando para o mercado do cigarro, valendo-se da mesma expertise e, inclusive, da mesma mão de obra.
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Nas dezenas de entrevistas realizadas durante a expedição, vieram à tona os problemas que contribuem para a perpetuação e a expansão do contrabando. Um deles é a carência de efetivo nas polícias. Outro são as penas a que estão sujeitos os operadores do contrabando, geralmente brandas, o que favorece a captação de mão de obra. Talvez o principal seja a diferença de preço no mercado entre o cigarro regular e o paraguaio: segundo os especialistas consultados, as estratégias adotadas pelo poder público, de preço mínimo e de taxação agressiva, vêm apenas estimulando o consumo de produtos oriundos do contrabando, ao invés de frear o tabagismo.
O resultado foi publicado em um suplemento de oito páginas que, em dezembro, recebeu menção honrosa no 61º Prêmio ARI/Banrisul de Jornalismo, a mais prestigiada premiação do jornalismo gaúcho.
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