Em uma região que encontra na produção agrícola as bases de sua trajetória e o gatilho de sua economia, o chamado “escândalo do Pronaf”, que veio à tona em 2014, é um marco triste e ainda não totalmente superado.
Nos primeiros dias de outubro daquele ano, quando as atenções do país estavam voltadas para o primeiro turno da eleição presidencial, o Vale do Rio Pardo virou notícia nacional, e por um mau motivo. Revelava-se uma investigação de grande porte da Polícia Federal segundo a qual a região conhecida no mundo pela cadeia produtiva do tabaco tornara-se o epicentro de um esquema, com autoridades políticas envolvidas em desvio de recursos públicos, mas que havia lesado, sobretudo, pequenos agricultores. Aliás, milhares de pequenos agricultores.
A engenharia criminosa apontada pela PF na Operação Colono, destacada por todos os principais veículos de comunicação do país naqueles dias, era a seguinte: pessoas ligadas ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), em conluio com servidores do Banco do Brasil e valendo-se da confiança dos agricultores, transferiam recursos de empréstimos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para contas bancárias particulares.
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Os detalhes do suposto esquema eram assombros. A descoberta teve expressivas repercussões jurídicas (centenas de agricultores entraram com processos cobrando prejuízos) mas também políticas. Uma delas foi ainda em 2014, quando o escândalo virou tema de uma audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. O impacto da investigação era tamanho que o então ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, fora chamado à comissão para prestar esclarecimentos sobre o caso.
Como não poderia ser diferente, os veículos da Gazeta Grupo de Comunicações foram os que acompanharam o desenrolar do caso mais de perto. E, naquele 12 de novembro, o jornalista Pedro Garcia desembarcou em Brasília para cobrir in loco a audiência.
O grande número de repórteres que disputavam espaço na sala de um dos anexos da Câmara era um sinal de que a nação como um todo estava atenta ao que ocorria no Vale do Rio Pardo. Assim como a presença de muitos conhecidos parlamentares – alguns, inclusive, que hoje integram a elite da política nacional, como o atual ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni; o atual governador de Goiás; Ronaldo Caiado; e o hoje senador e aliado próximo ao Palácio do Planalto Luis Carlos Heinze. Em rede nacional, o nome de Santa Cruz, Sinimbu e outros municípios da região era citado frequentemente.
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Os desdobramentos seguiriam pelos meses e anos seguintes. Semanas depois, a Comissão de Agricultura faria uma nova audiência, desta vez em Santa Cruz do Sul, com a presença de acusados e agricultores, e ainda mais tensa. Um ano depois, a Polícia Federal concluiria o inquérito e denunciaria políticos, servidores e ex-servidores públicos à Justiça. Em 2019, a denúncia foi aceita pela Justiça Federal e 14 pessoas se tornaram réus. O processo ainda está em andamento. E a sociedade, esperando por respostas.
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