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A Gazeta esteve lá: entre os pomeranos, no Espírito Santo

Quem chega a Santa Maria de Jetibá, na região serrana do Espírito Santo, a 90 quilômetros da capital, Vitória, logo se defronta com uma informação que não deixará dúvidas quanto ao caráter pitoresco da localidade. “Willkommen – Bem-Vindo a Santa Maria de Jetibá (A Cidade Mais Pomerana do Estado)”, anuncia a placa, no pórtico de entrada, em letras garrafais. E para quem se familiariza com a rotina local, bem como circula pela área rural do município, talvez a conclusão seja a de que se trate da cidade mais pomerana do Brasil.

A verdade é que toda a região serrana capixaba compartilha esta mesma identidade cultural. Afinal, essa área foi colonizada na década de 1870 por centenas de famílias de imigrantes pomeranos, que, na mesma época em que outros colonos se fixavam em diferentes regiões do Brasil, inclusive em Santa Cruz do Sul, subiram a serra do Espírito Santo.


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Hoje, conforme estatísticas, mais de 250 mil descendentes de alemães residem no Espírito Santo; destes, em torno de 120 mil, praticamente a metade, são descendentes de pomeranos. Que ali, como em nenhuma outra região, preservam de forma muito autêntica a língua, falando pomerano no cotidiano, nas ruas e em casa; o estilo de ser e de viver, e a cultura.

A fisionomia pomerana é nítida pelas ruas


Entre os hábitos pomeranos, a popular festa de casamento de três dias, com a noiva vestida de preto, bem como a gastronomia e a música, e outros elementos. A língua é preservada com o ensino nas escolas, e inclusive um dicionário português-pomerano está fixado, por iniciativa do professor e pesquisador Ismael Tressmann.

Santa Maria do Jetibá se “anuncia” como uma cidade essencialmente pomerana, e os cálculos são de que 70% de sua população, de 38 mil habitantes, descende de pomeranos. A influência fica visível em rostos, trejeitos, conversas (a língua pomerana inclusive é oficial no município), nos nomes dos estabelecimentos, nos sobrenomes e nos festejos.

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Os nomes de lojas remetem aos pomeranos


A Gazeta foi visitar essa região por ocasião da execução de um projeto relacionado aos 180 anos da imigração alemã no Brasil, e essa iniciativa buscou contemplar também as diferentes etnias que compuseram o movimento de imigração no século 19. Assim, em março de 2004, o jornalista Romar Rudolfo Beling, então editor na Editora Gazeta, e o fotógrafo Inor Assmann percorreram a região serrana do Espírito Santo para descrever sua realidade no livro Terra de bravos: imigração alemã no Brasil – 180 anos.

Além de entrevistar autoridades e lideranças em Santa Maria de Jetibá, na cidade e no meio rural, Beling e Assmann visitaram igualmente Domingos Martins, a cerca de 60 quilômetros uma da outra. Vila Pavão, Laranja da Terra, Itarana, Pancas, Afonso Cláudio e Santa Leopoldina são outras cidades de ascendência pomerana.

No caminho entre Vitória e a serra, a rodovia cruza o vale eternizado pelo escritor Graça Aranha (1868-1931) no romance Canaã, de 1902, no qual os personagens Milkau e Lentz, imigrantes, se defrontam com o mundo “pomerano” na serra capixaba. É uma outra face da mistura étnica europeia em solo brasileiro, com a contribuição dos pomeranos, esse povo habitante da Pomerânia, região situada no litoral do Mar Báltico, no norte da Europa, hoje pertencente à Polônia, os quais, em suas habilidades, são exímios pescadores.

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O vale do romance Canaã, de Graça Aranha | Foto: Inor Assmann

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