O crescimento da violência em centros urbanos da América Latina na primeira década deste século levou a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) a patrocinar uma série de cursos voltados à cobertura jornalística de conflitos. Um deles foi o 3º Seminário de Jornalismo em Ambientes Hostis, que ocorreu ao longo da primeira semana de abril de 2005 e foi ministrado pela equipe do Centro Argentino de Treinamento Conjunto para Missões de Paz (Caecopaz). As instruções ocorreram no Campo de Maio, área militar a 30 quilômetros de Buenos Aires. Associada à SIP, a Gazeta do Sul também participou do evento, representada pelo jornalista Ricardo Düren, então responsável pela editoria de Polícia e atual editor executivo do jornal.
Na Argentina, a Caecopaz é responsável pelo treinamento de tropas de elite, inclusive de comandos que embarcam para missões de paz da ONU e de forças policiais especiais. No seminário, 25 jornalistas investigativos de todo o Brasil receberam treinamento sobre primeiros socorros, resgate de feridos, incursões em locais conflagrados e zonas de guerra, negociação com sequestradores, rapel, paraquedismo e sobrevivência na selva. Uma peculiaridade da Caecopaz é o realismo das simulações, que ocorrem sem aviso e envolvem explosões, tiros de festim, veículos blindados e até helicópteros. Durante todo o curso, os jornalistas tinham que manter à mão uma mochila com material de primeiros socorros e uma máscara contra gás lacrimogêneo, além do inseparável capacete branco com a palavra PRESS – imprensa, em inglês.
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Düren lembra que a simulação mais impactante foi o “sequestro” do grupo de jornalistas, realizado certa noite por milicianos encapuzados e armados – na verdade, integrantes da Caecopaz. Colocados de joelhos em meio a uma área de mata, os repórteres tiveram as mãos amarradas para trás e a cabeça coberta por capuzes, que dificultavam a respiração. Seguindo as orientações repassadas no curso, o repórter da Gazeta procurou negociar a “libertação” dos colegas com os “sequestradores”. Foi então jogado no porta-malas de um carro, a fim de ser levado ao “líder do bando”. No caminho, conforme previsto pelos organizadores do treinamento, o carro foi “interceptado” pela polícia. Do porta-malas, foi possível escutar uma saraivada de tiros de festim – pois a simulação também incluía um tiroteio. Por fim, todos os jornalistas foram “libertados”, após quase uma hora de muita tensão, tamanho o realismo da atividade.
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Na volta a Santa Cruz do Sul, as orientações foram repassadas aos demais colegas que atuavam na cobertura de assuntos ligados à segurança. O curso também virou matéria na Gazeta do Sul, mas seu reflexo mais importante foi o de contribuir para a realização de reportagens com denúncias contra a violência, o crime e a insegurança.
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