Cultura e Lazer

A Gazeta conferiu: as ondas de Virginia Woolf

A vida e a obra da inglesa Virginia Woolf (1882-1941) são conhecidas do grande público, a partir de romances e ensaios. Mas a atriz carioca Cláudia Abreu (51 anos, que completa 52 na próxima quarta, dia 12) proporciona aproximação valiosa com essa escritora de primeira grandeza. No monólogo Virginia, que apresentou nessa terça-feira, 4, à noite, no Teatro Mauá, em Santa Cruz do Sul, ambienta os últimos instantes de vida da romancista.

É também a estreia como dramaturga. E não é qualquer estreia, como os gaúchos estão tendo o privilégio de testemunhar. Santa Cruz foi a primeira parada da turnê pelo Estado, sendo que nesta quinta-feira, 6, a peça estará em Santa Maria, no Teatro Treze de Maio, e no sábado, 8, fecha o tour com apresentação no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

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Esse encontro de Cláudia Abreu, atriz conhecida da TV e do cinema, com Virginia Woolf resgata, em olhar panorâmico, boa parte da vida da inglesa. E tudo ocorre em um palco que encena o fundo do leito de um rio, no caso, o Rio Ouse, nos arredores de Lewes, em Sussex, no Reino Unido, onde ela residia. Um dia, uma hora e um momento fatídicos: 28 de março de 1941, quando Virginia, aos 59 anos, encheu os bolsos de sua roupa de pedras e entrou na água, para tirar a própria vida.

Uma Cláudia Abreu muito segura se presentifica. Ali está Virginia, em singelo vestido branco rendado, num palco absolutamente despojado, livre de qualquer objeto: apenas atriz e voz. Em apoio, somente a iluminação, reduzida ao mínimo, e a sonoplastia, só o indispensável e necessário para reproduzir os sons do fundo da água.

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Virginia fala, e se diz. Recupera a infância, a relação com o pai dominador (e a um tempo idolatrado) e a mãe submissa (mas admirada). Dessa memória, e do vínculo (traumático) com irmãos, irmãs, amigos (em especial os do famoso grupo de Bloomsbury) e o marido Leonard Woolf, Virginia retirou o material com o qual forjou sua obra-prima. Mas eram tantas as lembranças, duras, cruéis, e tantas as vozes que a atormentavam, que, a certa altura, não mais suportou.

Se o conteúdo da peça teria tudo para ser denso, tenso, pesado, o roteiro e a abordagem de Cláudia imprimem uma leveza e uma riqueza desconcertantes. No palco, encenam-se os últimos instantes de uma escritora, mas o espectador sai com a intuição de que acaba de aplaudir o nascimento de uma grande dramaturga, que tem tudo para se tornar uma das mais importantes damas do teatro brasileiro.

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