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A fúria de Sofia

Sofia é uma gata persa de quase 15 anos. Chegou em uma manhã de fevereiro, ainda muito jovem, de banho tomado e fita na cabeça. Saiu da caixa, nos olhou com aquela expressão desprotegida que os animais fazem para os humanos, e nos apaixonamos.

Sofia não é o único gato por aqui. Mas desde sempre exibe um temperamento peculiar: não tem apreço pelos da própria espécie. Em mais de dez anos conosco, nunca dirigiu um miau de simpatia para os irmãos. Pelo contrário. Vai da indiferença à raiva. Sobretudo com o Pepo.

Pepo é um SRD de quase 6 quilos. Dócil e lindo. Um perfeito exemplar da mestiçagem brasileira na família felina. Mesmo diante de tais predicados, ou exatamente por causa deles, Sofia odeia o Pepo.
Ainda hoje, já idosa, encontra fôlego para perseguir o inimigo.

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Fica de tocaia entre as plantas e quando o rapaz passa, pula sobre ele com unhas e dentes. No tumulto, vai distribuindo golpes de direita e esquerda que raramente acerta. Pepo, mais ágil, foge em disparada. E nunca revida. Se revidasse, teríamos sérios problemas. Sofia pesa apenas dois quilos. Uma bolinha de pelos totalmente sem noção.

Quando vejo essa cena, acabo pensando em nós humanos. Mamíferos com comportamentos não tão diferentes dos amigos de quatro patas. Contrariando regras elementares da vida em grupo, tal como Sofia alguns de nós saem no braço na tentativa de resolver decepções e ressentimentos.

Os acontecimentos recentes parecem comprovar isso. Primeiro, cultivou-se em fogo lento um ódio nunca visto. Alguns falam em anos. Outros até em décadas. Não sei. Só sei que foi um cultivo sistemático e obsessivo contra o qual os argumentos plausíveis não surtiram efeito.

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Depois, diante de um desfecho no qual inevitavelmente haveria frustrados, partiu-se para o quebra-quebra sem maiores cerimônias. Agora, derrotados e vencedores colhem os resultados. Temos no palco todos os personagens: os que passaram de destemidos a amedrontados, os vingativos de ambos os lados, os que exigem providências, a turma do deixa-disso, os que pensam em ganhar alguma coisa com o caos e, felizmente, os que estão comprometidos com a civilidade e a justiça.

Como chegamos a este janeiro de 2023? Como sociedade, somos o que restou de uma violenta campanha de desinformação que acabou com a sobriedade de muitos. Mas na esfera privada, talvez poucos saibam as próprias razões, as inconscientes, para tanta raiva. O fato é que a roda seguiu girando, e moendo gente, quando deveria ter parado.

Em defesa da minha gatinha, há o fato de ela ser apenas uma gatinha. Talvez nem inconsciente tenha. E na defesa de nós humanos, dizer o quê?

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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