Quem diria que Santa Cruz ainda teria a chance de ver Erasmo Carlos, um ícone da cultura popular brasileira que já acumula mais de cinco décadas de estrada? E quem diria que ele, o Tremendão, chegaria até nós não como um vovô em fim de carreira mas como um astro do bom e velho rock-n’-roll e em ótima forma? Pois foi isso que se viu na histórica noite de sexta-feira, no auditório da Unisc, com promoção do Sesc.
Se eram visíveis na performance de Erasmo as marcas do tempo (como se pudesse ser diferente), também ficou claro que, aos 76 anos de vida, ele se mantém atualíssimo. Gigante gentil, canção que abriu o espetáculo, por exemplo, trata de um tema muito contemporâneo: os haters da internet. Ao resgatar uma parceria com Roberto Carlos de 1972, É preciso dar um jeito meu amigo, falou sobre a ditadura e o Brasil de 2017.
E foi com som pesado e o virtuosismo dos jovens instrumentistas que lhe acompanhavam que ele desfilou clássicos eternos de seu repertório, do romantismo de A carta e Gatinha manhosa à poesia de É preciso saber viver e Sentado à beira do caminho, passando pelo irresistível iê-iê-iê de Minha fama de mau, Vem quente que estou fervendo e É proibido fumar. E a tríade final foi um agito só: Negro gato, Eu sou terrível e, claro, Festa de arromba, uma ode à Jovem Guarda.
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Bem-humorado diante da casa cheia (os ingressos esgotaram horas antes) e com a voz doce que contrasta com o cenho franzido, fez piadas desde os primeiros minutos (“Antes eu tomava uísque, agora tomo vodka”, disse, enquanto abria uma garrafinha de água mineral), brincou com os mais entusiasmados (“Quando eu gravo DVD, ninguém grita ‘lindo’ para mim, nem os homens. De repente venho gravar DVD aqui”) e proclamou o amor e o bem. Ao final de uma hora e meia, ainda se permitiu abraçar e posar para fotos com quem não se conteve e saltou para a beira do palco.
E a sensação que parecia estampada no rosto de quem saía de lá era apenas uma: que bom que tivemos essa oportunidade!
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