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A Expoagro que quase ninguém viu

Este ano teria a primeira edição da Expoagro Afubra com duração de quatro dias. Neste sábado, aniversário de 65 anos da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), terminaria a edição de número 20 da feira. No entanto, a precaução por causa do risco de contaminação com o coronavírus e a responsabilidade com a saúde da população regional fizeram a organização da feira cancelar o espetáculo com o cenário praticamente montado. A Gazeta do Sul entrou no parque de exposições e conferiu a estrutura e parte da tecnologia que estavam prontas. Entenda os motivos pelos quais a feira não poderia ser adiada e veja o que ninguém conseguiu apreciar este ano.

A exposição que foi trabalhada durante dez longos meses
Quase ninguém sabe, mas para que uma Expoagro Afubra abra suas portas aos milhares de visitantes todo ano é necessário que se tenha um planejamento e um trabalho que começa pouco mais de um mês depois do fim da última feira.

O técnico agrícola Claiton Dutra Teixeira é o arquiteto desta edificação. Ele é o responsável pelas lavouras técnicas e toda a tecnologia empregada nas mais de 50 áreas destinadas à demonstração de técnicas avançadas de plantio, colheita e adubação.

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Teixeira coordena uma equipe de quatro pessoas que trabalha todo o tempo dedicado na Expoagro. Ele diz que a feira que iria ocorrer da última quarta até este sábado começou a tomar forma em maio de 2019. Dez meses antes de estar pronta, começa a preparação do solo e o manejo das lavouras. “Cada empresa define o que quer apresentar. Há culturas que são semeadas em momentos diferentes para que os visitantes consigam conhecer os vários estágios da planta.”

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Por isso, quem visitaria o parque de exposições em Rincão Del Rey, em Rio Pardo, notaria que para a cultura de tabaco, por exemplo, havia pelo menos cinco lavouras diferentes.

Além deste plantio, foram semeadas lavouras de soja, milho, feijão, arroz, cana-de-açúcar e girassol e implantadas piscinas para a criação de peixes. “Tudo estava pronto. A montagem do parque alcançava 70% na sexta-feira, quando fomos chamados para o anúncio de que a Expoagro estava cancelada. Alguns trabalhadores nem acreditavam no que estava acontecendo”, revelou Teixeira.

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Mesmo sem ter acontecido a última edição, em pouco tempo a equipe de Teixeira precisa retomar a atividade para a preparação da próxima feira. “Teremos que dar continuidade a este trabalho iniciado em 2001”, confirmou o técnico.

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Os girassóis em reverência
Entre as culturas prontas para a apreciação dos visitantes estava a lavoura demonstrativa de girassóis. Quando mais próxima de estar pronta para a colheita, a semente começa a pesar no miolo da flor, que baixa parecendo estar em reverência ao sol.

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Os girassóis da Expoagro estavam no ponto para o início da colheita. Assim como as carpas de até 20 quilos de um dos açudes e as 1,5 mil tilápias criadas em uma nova técnica de crescimento em curto prazo. Aos girassóis e às carpas somam-se as hortas da Afubra e do Isla Fertilizantes. A horta da Afubra, como sempre, é dividida com os funcionários. Já o aproveitamento dos demais plantios e cultivos, que são de empresas, fica a critério delas.

O tabaco da véspera do Natal
Enquanto na região o período de transplante de mudas de tabaco ocorre entre maio e junho, em uma das lavouras demonstrativas o transplante dos pés foi feito em 24 de dezembro, na véspera do Natal. “Era preciso mostrar a diferença da folha no pé com a flor e a que não tem floração. Quando a flor é cortada, ou inibida de crescer, o desenvolvimento das folhas é melhor. Elas pesam mais e têm maior valor na venda”, ensinou Claiton Dutra Teixeira.

Em meio à seca e entre as plantações, lotes com soja, arroz e milho verde. A Afubra investiu em irrigação para manter as plantas com vida durante a estiagem que castiga a região desde novembro do ano passado. “Tudo deveria estar no ponto, e de fato ficaria. Estávamos com o cronograma cumprido”, complementou.

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Teixeira: mudas foram plantadas em 24 de dezembro para estarem no ponto agora

Para continuar a história
Na saída do parque de exposições, Teixeira exibiu a placa de boas-vidas que seria posicionada no local, como uma das últimas tarefas antes de os visitantes ingressarem no espaço. O painel mostra a grandiosidade da Expoagro e o crescimento da feira ao longo das duas décadas em que é realizada. A primeira edição, com seus modestos 64 expositores e 2 mil visitantes, contrasta com a última, que levou a Rio Pardo 432 empresas e 112 mil pessoas. O movimento em negócios nos três dias de feira em 2019 chegou a R$ 70,6 milhões. “Ficou aí para contar a história. No próximo ano, a gente arruma e usa esta placa, com certeza”, decretou o técnico.

Folhosas da horta da Afubra serão arrematadas pelos funcionários

A maior lição será a cooperação mútua
O coordenador-geral da Expoagro Afubra, Marco Dornelles, fala em cooperação. Segundo ele, “desmontar” a feira é doloroso, mas ensina a lição de que todos podem se ajudar. “Neste processo de cancelamento todos estão tendo que se ajudar. Todos os fornecedores estão encontrando alternativas para este problema. Está está sendo uma grande lição”, resumiu.

Mais de 50 lavouras foram plantadas pelas empresas que seriam expositoras durante os quatro dias de feira programados para este ano

Para reduzir o prejuízo financeiro, a organização está negociando e conta que todos fornecedores estão sendo parceiros nesta missão. Quem não tem como devolver valores pagos, deixa o serviço em crédito para o próximo ano. Há aqueles que não vão conseguir consumir a matéria-prima adquirida, como no caso do estoque de carne para o churrasco do restaurante. Como saída, o proprietário vai congelar o produto e negociar o pagamento com seus fornecedores. E está tudo certo. Em uma situação sem precedentes como a crise gerada pela pandemia do coronavírus, todos aprendem a se apoiar.

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Dornelles disse que em meio a todas estas dificuldades e aos percalços de uma safra colhida na seca – que, por si só, encolhe a economia no campo e na cidade –, o baque econômico continua sendo um problema. Ter cancelado a Expoagro pode ter sido a situação menos cara, do ponto de vista financeiro.

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Para realizar a feira a Afubra já havia recrutado 130 funcionários das filiais dos três estados. Além disso, multinacionais mandariam seus executivos e a quantidade de público vindo de partes diferentes do Brasil e do mundo seria imensa. “Estamos falando de pessoas de cidades muito pequenas, que têm chance de nem registrar o coronavírus. Se tivéssemos exposto estas comunidades ao risco, seria muito pior”, definiu.

Ao todo, 250 profissionais da Afubra estavam recrutados para trabalhar no parque. A eles seriam adicionados atendentes e funcionários de expositores e da agroindústria familiar e milhares de visitantes.

Todo este público teria acesso ao que existe de mais moderno no agronegócio pensado para a agricultura familiar. Por conta disso, também, não foi possível transferir a Expoagro.

Dornelles: negociação com fornecedores para contornar o cancelamento

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