Na infância eu ouvi a seguinte historinha: numa aldeia isolada havia um menino muito travesso. Volta e meia ele ia para perto do mato e começava a gritar por socorro, pois um lobo o estava rondando. Os aldeões acorriam com foices, armas de fogo e o guri dando risada. E assim o menino ia fazendo suas traquinagens. Até que um dia um lobo o perseguiu, o guri gritou, ninguém acreditou e o piá foi para o céu mais cedo.
Antes que as patrulhas me censurem gostaria de dizer que nas literaturas de muitos povos há esses contos trágicos.
Na Copa da Rússia deu para se ver de que material ético são moldados alguns jogadores. Alguns dando exemplos de cortesia, fairplay, educação. Outros, infelizmente, forjando situações, exagerando visivelmente nas supostas dores. Os árbitros, então, como é lógico, mesmo quando a falta era grave contra um desses “malandrinhos”, deixavam a jogada correr. A indagação de muitos era esta: de que lar vem um elemento desse?
Aí comparo o tênis com o futebol. Já vi muitos casos em que aquele que não consegue mais jogar futebol migra para o tênis. Alguns, muito raros, trazem junto a “cultura da esperteza”, dando como fora a bola boa na sua quadra e o pior: querendo marcar, na quadra do oponente, como boa uma bola fora.
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Certa feita eu combinara um jogo numa das quadras do Tênis Club de Santiago. Enquanto meu parceiro não vinha, sentei-me na arquibancada observando um jogo que se desenrolava. Chegou o filho adolescente de um amigo meu que se sentou do meu lado, esperando pelo professor que daria aula na outra quadra. Lá pelas tantas um dos tenistas que estavam jogando deu como fora uma bola na sua quadra, quando visivelmente fora boa. O guri comentou que o adversário não reclamara e seguiu o jogo. Falei ao adolescente que é da ética do tênis a gente, na dúvida, dar como boa uma bola duvidosa. Na dúvida, decidir contra si. E deixar o oponente marcar na sua. “Ah! Para tio! Na dúvida eu daria ‘fora’ a bola na minha quadra.” Perguntei ao piá se ele tinha internet em casa. Ante a resposta positiva, pedi-lhe que acessasse o Google e digitasse “Código de ética no Tênis”.
Pois o guri fez isso e, quando me reencontrou, veio todo faceiro. Disse que imprimira cópias das regras e espalhara entre seus colegas. Indagou se eu fizera o mesmo com meus parceiros. Respondi que nunca tinha precisado. “Mas tio, o que faço se um colega não segue essas regras?”. Pensei um pouco e respondi: “Fica frio, mas não faz negócios com ele…”.
Abraços para Armin Lederer, Eduarda Job e Marcos Vechietti
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