Ao me despedir de um conhecido que encontrei na rua há poucos dias, desejei boas festas e falei da minha esperança de que 2022 será um ano melhor do que este e o anterior. Ele, então, me alertou: “É, mas tem eleições”.
Não é que eu tinha me esquecido? É até vexatório para um editor de política, mas nesta reta finalíssima do ano, me concentrei tanto no otimismo quanto à superação da pandemia que deixei de lado, na contabilidade das projeções, o pleito presidencial que temos pela frente. E antes fosse um pleito qualquer, que não nos causasse maiores aflições.
O que nos espera, na verdade, é algo que parece pertencer ao domínio do absurdo. Pelo cenário que se desenha, estarão na disputa os três personagens principais de um enredo rocambolesco que marcou a história pública do País na última década, o que inclui o ex-presidente que acabou preso por corrupção, o juiz que mandou prendê-lo sob suspeição e a figura altamente controversa que emergiu nesse contexto. Nem os roteiristas de House of Cards chegariam tão longe na imaginação!
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Mas esse nem é o principal problema. A questão é que, à exceção de parcelas pouco expressivas da população, aparentemente ninguém votará em Lula, Bolsonaro ou Moro. Votarão, sim, contra Lula, contra Bolsonaro ou contra os dois. Uma eloquente maioria escolherá por eliminação ou rejeição. A decisão vai ser tomada não pensando em quem deve ganhar, mas em quem precisa perder. Foi-se o tempo em que buscávamos nas candidaturas um programa com o qual nos identificássemos. O que está em jogo é o que não queremos, e o resto a gente vê depois.
Vejo com profunda angústia uma disputa em que não temos candidatos, somente anticandidatos. E isso piora na medida em que eles fazem concessões pragmáticas que esvaziam o que resta de suas identidades. O que esperar de Lula quando ele flerta com Geraldo Alckmin, o mesmo com quem travava debates virulentos ao vivo na TV há pouco mais de uma década e cujo perfil e passado confrontam em muito o projeto almejado pelos progressistas? E como Bolsonaro, que sempre compensou o absoluto despreparo agarrando-se ao discurso anticorrupção, pretende driblar o fato de que dividirá o palanque com nomes do naipe de Valdemar Costa Neto, além de partidos, inclusive o seu, que quando preciso correm para as asas da mesma esquerda que ele diz querer combater acima de tudo? E quanto a Moro, conseguirá manter a imagem de corregedor da república alojado em uma sigla cheia de nomes com pendências judiciais e sem, ao menos até agora, ter dito o que pensa sobre qualquer outro tema, seja econômico, ambiental ou costumes?
Entre a esquerda de Alckmin, a direita do Centrão e o enigma oportunista da terceira via, não surpreende, afinal, que o critério máximo da eleição seja o menor dos males. Não fosse a ignorância institucionalizada que inventa e alimenta inimigos imaginários, o que nos permitiria um debate mais maduro e nos entregaria opções mais sérias, estaríamos ocupados com discussões sobre o melhor futuro para o País e não em nos proteger de ameaças históricas. A escolha terá que ser feita, é claro, e talvez nem seja tão difícil, mas certamente não será com entusiasmo e com o coração e a mente em paz. A celebração da democracia jamais foi tão amarga quanto essa que se avizinha.
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É por isso que já decidi: vou voltar a fingir que a eleição não existe, ao menos por mais alguns dias, e preocupar-me em terminar o ano com as mais doces expectativas. E o resto, bem, vejo depois.
Um bom Natal!
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