Tanto em volume quanto em divulgação, universalmente nunca foram tantas as alternativas e oportunidades de acesso à educação, ao saber, à cultura, à escolarização e à produção científica. O conhecimento acumulado acerca da existência humana e do meio-ambiente é fantástico e imenso.
A racionalidade e a ciência prosperam e asseguram uma vida melhor. Passo a passo, crendices e superstições dão lugar ao saber científico e metodológico. Mais e mais pessoas vão além de um conhecimento que tinham e que adquiriram em seus meios de origem social.
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Porém, a plena receptividade, a compreensão, o estabelecimento e o desenvolvimento dessas mensagens ainda dependem do esforço e do empenho pessoal e individual. Daí que assistimos e vivenciamos um incrível paradoxo.
Ao mesmo tempo em que avançamos grandiosamente na produção e na divulgação do saber científico, nunca foi tão grande o número de pessoas (com)partilhando superstições e explicações simplistas, erradas e idiotas. Como se verdade fosse!
A superoferta, a exuberância tecnológica e a instantaneidade dos modernos meios de conhecimento e comunicação, a exemplo de celulares multimídia e da própria internet, garantem sua propagação.
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Bem, podemos dar um “desconto” e admitir, como bem demonstra a história em todos os períodos e sociedades, que a cultura científica sempre foi restrita e elitista. E que sempre houve uma “competição” da ciência com a cultura popular, sempre rica em simplificações ingênuas e travestidas em conhecimento e senso comum.
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Um bom exemplo da massificação da ignorância é a crescente oferta e divulgação dos manuais de astrologia e auto-ajuda, com práticas e garantias de “sucesso pessoal, no amor e nas finanças”.
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Também prospera o fundamentalismo religioso. Explicações sobre a origem do universo, da vida, da humanidade, que ignoram e contrariam, sem cerimônia, a biologia, a antropologia, a arqueologia e a história, entre outras ciências. Isso sem falar na “indústria” religiosa, o comércio da fé e seus teólogos da prosperidade, que “expurgam demônios e abençoam carteiras de trabalho”.
Repetindo, haja vista a fartura tecnológica e o acesso universal, muitas pessoas propagam a ignorância, preconceitos e a falsa ciência, sem restrições e sem constrangimentos. Como se houvesse uma genialidade natural, uma geração espontânea do saber.
Todavia, compreendo. Afinal, com tantos corações carentes de afeto e ouvidos ávidos de atenção (alguns com mentes e estômagos vazios), não é surpresa a supremacia da ignorância, da idiotia, da mistificação e do curandeirismo.
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(Artigo publicado originalmente em 2009)
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