Aconteceu nesse sábado que passou. Decidimos, eu e minha noiva, sair para comer algo no Centro. Fomos despreocupados, certos de que não teríamos problemas, já que “é janeiro e a cidade está vazia”.
Ledo engano. Não é que tinha muito movimento e não encontramos vaga para estacionar nas ruas principais, ao menos nenhuma razoavelmente próxima de onde queríamos ir? Isso que ainda não eram nove da noite. Rodamos, rodamos, na expectativa de pegar alguém de saída, mas a disputa era grande. No fim, acabamos desistindo e voltamos para casa – resmungando, é claro.
Mais tarde, fiquei pensando o quanto acharia graça de nosso pequeno infortúnio um morador de metrópole, acostumado a um trânsito verdadeiramente caótico.
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Uma das coisas que mais gosto em Santa Cruz é esse “meio-termo” entre a cidade cosmopolita e a pacata província. Dispomos de uma boa estrutura em termos de serviços – aliás, muito boa para uma cidade de 100 mil e poucos habitantes –, o que nos mantém conectados com o mundo. Mas ao mesmo tempo, guardamos uma tranquilidade interiorana, aquele conforto de estar sempre perto de quase tudo, de caminhar em calçadas limpinhas e arborizadas sem tanto medo de ser assaltado e de desfrutar de momentos em que é possível ouvir nada a não ser um longínquo latir de cachorro. Como se não bastasse, estamos a míseras duas horas de uma capital, onde encontramos todo o pouco que nos falta.
Quando essa equação – na maioria das vezes perfeita – pende mais para o lado da cidade grande, nosso espírito bucólico se desacomoda. É, na verdade, uma tremenda contradição: queremos que a cidade se desenvolva, mas desde que isso não afete nosso sossego. E aí não nos conformamos, por exemplo, quando não conseguimos estacionar perto o suficiente sem que seja necessária uma “pernadinha” até nosso destino. Ou então quando perdemos alguns minutos parados em um cruzamento, quando precisamos esperar por mesa em um restaurante, quando há fila no mercado ou quando jovens dão gargalhadas na rua em plena madrugada.
Ô povinho exigente! Esquecemos, às vezes, que o progresso – como tudo, por sinal – tem também um ônus. Se a ideia é atrair investimentos, criar novos empregos e gerar mais e mais riquezas, fatalmente teremos que ceder um pouco.
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Mas há também um lado bom nisso. Guardiões que somos da nossa invejável qualidade de vida, podemos garantir que o município avance de forma organizada, sustentável, inclusiva e com mobilidade, evitando um caos urbano. Parece-me até que esse é o maior desafio do prefeito Telmo (a quem desejo sorte no segundo mandato) e de nossos secretários e vereadores: fazer Santa Cruz crescer, mas sem perder o charme.
Um feliz 2017 a todos.
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