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A diáspora dos colonos

Vieram muitos imigrantes alemães ao Brasil, como todos sabemos. Um grande número era de agricultores. Fixaram-se em locais onde era possível plantar e colher. Sucede que a área que cada família recebia não era grande. Os filhos ajudavam os pais na lavoura. Ocorre que os filhos, geralmente numerosos, cresciam e se tornava problemática sua sobrevivência. Daí que um ou dois permaneciam na área de terras e os demais tinham que arrumar uma ocupação.

Outros, todavia, foram comprar terras nas “colônias novas”, deixando para trás as “colônias velhas”, como Santa Cruz, Lajeado, etc. Inicialmente migraram para as regiões de Santa Rosa, Ijuí, Horizontina, entre outras. Aconteceu de novo o fenômeno que antes relatei, a terra já era pouca para tantos filhos. O oeste de Santa Catarina foi a solução e essa parte acompanhei muito bem, porque um tio meu, irmão da minha mãe, saiu de Boa Vista e foi comprar terras no meio da selva, no lugar que tinha o nome de Porto Novo (hoje Itapiranga), nas margens do Rio Uruguai.

As estradas eram precárias. De vez em quando um outro tio, Arno Etges, levava famílias para lá de caminhão. Voltava contando muitas peripécias e eu, na época uma criança, ficava muito admirado quando ele lavava as mãos. Eu achava que era sangue, tamanha a quantidade de líquido  vermelho que escorria na pia. Na verdade era o famoso “barro vermelho”. Por sinal muitos anos depois, quando assumi como juiz em Horizontina, verifiquei que a terra vermelha se impregnava na roupa, impedindo completamente que se usasse camisas ou calças brancas. E mais: só então tive uma ideia do sacrifício que passaram esses colonos. No barro vermelho, só se podia andar com pneus “lameiros” ou envoltos em correntes. Mesmo assim, quando o carro atolava, a solução era pedir que um colono pegasse uma junta de bois para liberar o veículo.

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O advogado e escritor Lauro Anschau, que mora hoje em São Leopoldo, lançou um livro intitulado Entre rosas e espinhos. Nele descreve como foi penosa sua viagem até Itapiranga quando era criança, em 1943, acompanhando seus pais. O lote que lhes tocou tinha 50 hectares, todo coberto de árvores, sem nenhuma benfeitoria. Tiveram que ir desmatando, a carne que comiam era inicialmente dos animais silvestres que abatiam. Também havia ali perto um arroio onde pescavam.
 
Anschau relata que havia muita solidariedade entre os vizinhos que, no início, forneciam alimentos e até animais, como galinhas e porcos.
 
Hoje aquela região é próspera, o que ocorreu, podem crer, também graças a muitos colonos que saíram de Santa Cruz do Sul.

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