Colunistas

A cultura do obsoleto

Chama-se de “obsolescência programada” a venda de produtos com vida útil reduzida, para que os consumidores sejam obrigados a trocá-los com mais frequência. As mercadorias não são feitas para durar, mas para se tornarem defeituosas e obsoletas rapidamente. Em pouco tempo seu destino é o descarte, com o consequente aumento do volume de resíduos no meio ambiente.

É uma prática bem conhecida na indústria de eletrônicos, especialmente celulares, com a constante limitação das atualizações de software. Novos aparelhos são lançados com pequenas melhorias e o consumidor é estimulado a comprar a versão mais recente, mesmo que a anterior ainda funcione. É uma questão tratada com seriedade na Europa: empresas como Apple e Samsung já foram multadas por esse tipo de procedimento.

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A cultura da obsolescência parece ter chegado a outras esferas da vida, além da produção de bens de consumo. É como se praticamente tudo, inclusive informação e arte, fosse concebido para desfrute imediato e esquecimento a curto prazo. Pílulas de cultura ligeira acessíveis a um clique, sem distinções de maior ou menor relevância.

É curioso acompanhar o feed de notícias em um celular: o entretenimento mais banal alterna-se com o noticiário mais duro, em um fluxo natural, como se ambos fossem a mesma coisa. Ainda que o conteúdo seja definido a partir de pesquisas do usuário, a impressão é de que tudo se resume a puro passatempo, sejam guerras ou casos amorosos de celebridades.

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Daqui a alguns séculos, o que restará de nossa cultura? (Na hipótese de que exista alguém vivo e interessado.) Lembrando a definição de Hannah Arendt nesse sentido, em um dos textos de Entre o passado e o futuro, um objeto só é cultural na medida em que pode durar. Tal durabilidade é o contrário da funcionalidade, “a qualidade que faz com que ele novamente desapareça do mundo fenomênico ao ser usado e consumido”, nos termos da autora.

Uma cultura fica empobrecida quando tudo o que produz tem caráter funcional, serve apenas para satisfazer necessidades imediatas. Nesse caso, a necessidade de distração constante e prazerosa, mesmo nos piores cenários.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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