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A construção da vida

Falar sobre envelhecimento é polêmica certa como, aliás, quase todos os assuntos que se leva a público. Longe da unanimidade, sonho com o retorno de discussões minimamente civilizadas em que os divergentes esgrimem argumentos ao invés de ofensas. Onde citem exemplos e não “joguem na cara” agressões que envolvam parentes do adversário.

Uma das melhores coisas em ficar velho nestes atribulados tempos de imposição tecnológica é ler o nome de quem nos envia mensagem de “feliz aniversário”. Isso ocorreu comigo na semana passada, quando cheguei aos 61 anos. Foi meu segundo “cumpleaños” – como dizem nossos hermanos – em confinamento que já dura 15 meses.

Através do Facebook, por Whats, e-mail ou até por ligações “ao vivo e a cores” – acredite: foram 23 contatos pessoais por telefone! –, é possível estabelecer uma espécie de linha do tempo. Cada nome representava uma fase da minha vida. Foram etapas que forjaram parcerias que se fortaleceram ao longo dos anos, tornando-se eternas.

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As verdadeiras amizades, sabemos todos, independem da frequência dos contatos olho no olho. Em momentos de dificuldade sabemos a quem recorrer, mesmo que a distância de muitos anos esteja presente. São irmãos que a vida nos dá em algum momento da trajetória. São relações que não exigem bate-papos de boteco, churrascos, conversas constantes ou contatos mais próximos.

O aniversário permite, ainda, refletir sobre nossos companheiros que foram agregados à agenda mais recentemente. São “cúmplices do bem” que comprovam que, assim como é sempre momento de aprender, a vida é uma viagem que guarda surpresas e novos personagens.

Como sempre temos “o outro lado”, cumprir mais um ano de vida também estabelece situações dolorosas. São ausências de amigos fiéis, onipresentes, mas que foram levados para sempre. Nesse caso a dor da falta é grande, machuca a alma, dilacera o coração, reitera o privilégio da convivência humana que faz o tempero da vida. Confesso que por décadas não gostava de comemorar aniversário, sentia depressão, tristeza e uma nostalgia incômoda. A situação se alterou com a chegada dos filhos, hoje adultos jovens, que sempre insistiam para organizar alguma comemoração.

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Assim, até hoje reúno amigos e familiares. Em casa ou em algum boteco da vida passo a noite dando boas risadas, bebendo uma cerveja gelada, petiscos e resgatando episódios que os bons companheiros invocam a cada encontro anual.

Confesso que me rendi definitivamente a esse momento de confraternização e de encontro descontraído. É ocasião, também, para renovar as energias. Para lembrar que a vida não é feita apenas das agruras da pandemia, de más notícias e de perdas. Celebrar a vida é sempre bom. E com amigos então, é show!

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