A busca pelo Alasca selvagem

“Devo ir, ou devo ficar?”. A pergunta imortalizada pela banda punk britânica The Clash, na clássica Should I Stay or Should I Go, já passou na cabeça da maioria das pessoas que eu conheço. Não foi diferente para o jovem Jesse Koz. Ele nomeou o cachorro de estimação, um golden retrivier, de Shurastey. Ambos saíram de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e pegaram a estrada rumo ao Alasca, ponto mais ao norte das Américas.

Koz fez uma conta no Instagram para Shurastey, a página era um sucesso e já acumulava cerca de 500 mil pessoas. Desconfio que a presença digital financiava a viagem feita, desde 2017, em um Fusca 1978.

O objetivo estava próximo. Já nos Estados Unidos, a dupla rumava em direção à fronteira com o Canadá e de lá chegaria ao destino. Ao tentar desviar de um engarrafamento no Estado de Oregon, Koz invadiu a pista contrária e bateu de frente no carro de Elieen Huss, de 62 anos. O choque foi forte e ela foi parar no hospital. Com a segurança proporcionada por um carro produzido há mais de quatro décadas, Shurastey e Jesse Koz não resistiram ao impacto do acidente e morreram. O jovem tinha 29 anos e o cachorro, 6.

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O episódio me remete ao filme Na natureza selvagem, dirigido por Sean Penn e inspirado no livro do escritor Jon Krakauer, que, por sua vez, é baseado em uma história real.

A película conta a história do recém-graduado Christopher McCandless. Ao som de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, que compôs uma trilha sonora exclusiva para o filme, o jovem abre mão do futuro promissor em uma vida típica de classe média norte-americana e vai ao Alasca com a cara e a coragem.

Christopher encontra, em meio à solidão da selva, um ônibus onde se abriga. Na tundra, ele dorme no automóvel e vive uma batalha diária pela sobrevivência. Até que confunde uma planta comestível por uma venenosa. O veículo ainda está no mesmo lugar e é objeto de contemplação para peregrinos.

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Por que o local da morte do rapaz virou ponto turístico? Talvez todos tenhamos uma busca pelo Alasca selvagem. Um lugar puro e natural, onde os desafios da sobrevivência sobressaem às futilidades mesquinhas das relações interpessoais. Um lugar onde fique claro a insignificância da existência humana perante a magnitude da natureza. Ainda assim, a vida ainda é a melhor coisa que eu tenho. A nossa estrada somos nós que fazemos e, queiramos ou não, na maioria das vezes é solitária.

A prudência passou longe da trajetória de Christopher e Jesse. A prepotência causou as mortes de McCandless, Koz e o fiel companheiro Shurastey. O cão foi cremado na quinta-feira. A previsão é que suas cinzas cheguem a Santa Catarina entre 20 e 30 dias, junto com o corpo de Jesse.

O prefeito de Balneário Camboriú disse que fará um mural em uma praça com uma representação do jovem e do companheiro canino, que também dará o nome a um novo “Dog Park” na cidade. No espaço dedicado à biografia, no Instagram, Koz ostentava a frase: “ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão”. Ao que parece, ele fez uma escolha.

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Marcio Souza

Jornalista, formado pela Unisinos, com MBA em Marketing, Estratégia e Inovação, pela Uninter. Completo, em 31 de dezembro de 2023, 27 anos de comunicação em rádio, jornal, revista, internet, TV e assessoria de comunicação.

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