Hoje, sem nenhum preconceito, vou contar um episódio de que tomei conhecimento há muitos anos. É sobre um costume, que creio hoje desaparecido, que alguns homens da campanha tinham: “ter uma protegida”. É um caso de amor “brujo” e enfumaçado, amalgamado com paixões carnais inconfessáveis.

Os fatos se deram também na região da campanha gaúcha. A vida fluía sem muitas novidades .Vou descrever o que vi e ouvi, mas “por la leche de mi madre” juro que eu nunca fui dessas práticas, muito menos frequentar a “zona”, pois minha mãe Ludmila me advertia severamente a não frequentar esses lupanares, brandindo seu dedo em riste e me alertando  para as sífilis, gonorreias e outras coisas que poderiam me acontecer.

Nessa cidade a que me refiro, havia um, como se diz hoje, operador do direito, que era meio feio, mas possuía muita “plata”. Tinha família constituída, ia com esposa e filhos para a santa missa, mas era um predador voraz das delícias do amor clandestino.

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O ínclito dr. Hermenegildo, chamemo-lo assim, era respeitado e até admirado. Mas tinha um “fraco” por jovens mulheres. É que, segundo “pérfidos” costumes da época, era tolerada a “proteção” a uma mocinha, desde que isso não implicasse desrespeitar publicamente a esposa “legítima”. Até se ouvia: “normal, coisa de homem”.

O dr. Hermenegildo, no entanto, tinha um mau costume para os preceitos consuetudinários da época. Não se contentava só nos meneios e práticas, mas se apaixonava. Alugava uma casinha, montava um instituto de beleza, como era usual. Todavia, depois de certo tempo, se “desapaixonava” e resolvia as coisas em perdas e danos.

Certo dia desembarcou, vinda de Rivera, uma morocha de fechar o trânsito. Aparecia nos cafés e restaurantes, vendendo “alfajores” que ela mesma fazia na casa de uma tia que morava lá perto dos trilhos. Arrastava olhares lascivos. Amparo era seu nome. Linda como laranja de amostra.

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O dr. Hermenegildo a viu passando pela rua principal e a abordou. A moça não lhe deu atenção, fez um muxoxo e seguiu com o balaio de doces. Tipo da guria para constituir família.  Hermenegildo não se sofreu e concluiu que ia fazer uma proposta para Amparo. Dar-lhe-ia uma casa, mais uma quadra de campo e celebraria com ela um “contrato de bom viver”, quem sabe ter um filho.

Decidiu relatar sua decisão a um compadre. O amigo lhe disse que parasse com isso, que lhe indicaria uma moça cancheira,  recém-chegada na zona e louca de querendona, como ele mesmo constatara.

Qual é o nome dela?, perguntou Hermenegildo.

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Amparo, retrucou o amigo.

 

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