A batata e o alemão

Quando se fala em hábitos alimentares dos alemães, logo se pensa em batata, não é mesmo? Não é para menos, a batata é alimento básico, é saudável e tem diversas formas de aproveitamento. Ela está presente em assados, cozidos, sopas, pães, amido, fécula… Com ela fazem de um tudo, ou quase tudo, inclusive plástico biológico. Grandes escritores alemães, como Goethe, Schiller, Heinrich Heine enaltecem a batata nos escritos. O livro “Die Blechtrommel”, obra inaugural da Danziger Trilogie, de Günter Grass (autor laureado por prêmio Nobel), inicia com o narrador relatando uma colheita de batatas. Em um fogo improvisado, batatas assam entre as brasas.

Em Freiberg, Sachsen, conheci a famosa Kartoffelhaus – no restaurante, o cardápio está ricamente voltado para pratos com batata. Ao final da janta, me ofertaram um Kartoffelgeist – uma cachacinha feita de batata. Pode? Aliás, para saber um pouco mais sobre a cultura e história da batata, vale uma visita ao Kartoffelmuseum, em München, ou a outros dois museus existentes em terra alemã sobre o assunto. A propósito, a batata, die Kartoffel, também é conhecida por Knolle, Erdapfel ou Grumbeere.

Por lá também se planta muita batata. Mais de 200 diferentes tipos de batata são cultivados e, em média, colhe-se em torno de 11 milhões de toneladas a cada ano na Alemanha. No mundo, a variedade está em torno de 2 mil e a colheita mundial gira em torno de 280 milhões por ano. Você sabia que na Europa a batata é conhecida há apenas uns 470 anos? No tempo das descobertas e conquistas das terras americanas, os espanhóis a conheceram nos Andes e a levaram consigo. Os habitantes nativos cultivavam batatas muito antes de a América ser descoberta.

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Mas a batata não entrou com facilidade na cozinha dos alemães. Por longo tempo a cultivavam como planta ornamental, pelas lindas flores. Bem mais tarde, a conheceram como alimento. Isso foi lá pelos idos de 1756, numa época de grande carestia de alimentos. Naquele tempo, Frederico, o Grande, da Prússia, ordenou o cultivo de batatas para consumo. Obrigando assim, literalmente, os alemães a comer batata. E hoje ela faz parte da alimentação cotidiana de muitos, principalmente no Norte.

Quando se dá uma conferida em cardápios, fica-se impressionado com a imensa variedade de iguarias: Salzkartoffeln, Pellkartoffeln, Bratkartoffeln, Kartoffelknödel, Kartoffelklöße, Kartoffeleintopf, Ofenkartoffel, Kartoffelbrei, Folienkartoffeln, Kartoffelgratin, Kartoffelchips, Kroketten, Bauernfrühstück, Pommes frites, Kartoffelauflauf, Kartoffelbrot, Kartoffelpuffer, Kartoffelsuppe, Kartoffelbällchen, Kartoffelsalat, só para nomear algumas formas que por lá conheci.

E dizer que por longo tempo a batata foi usada pelas bandas de cá para expressar menosprezo pelos descendentes de alemães que falavam português com dificuldade, ou com sotaque alemão. Eram chamados de “alemão batata”. Eu também, principalmente no mundo colegial. Sorte minha foi entrar para a universidade. Na UFSM, meu alemão foi valorizado. No mundo universitário, aprendi a importância de sabermos mais idiomas. De modo que toda minha vida acadêmica foi voltada para o estudo e cultivo das línguas alemã e portuguesa. Longa vida à batata e aos idiomas, para o desenvolvimento individual e coletivo de nosso lugar de viver.

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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