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Ricardo Düren

A aposta

Creio que é preciso deixar claro, desde já, que não sou fã do Big Brother. Não pense o leitor que é birra minha contra o programa, ou uma revolta pseudointelectual contra a cultura de massa, ou algo do tipo. Simplesmente acho monótono o desencadear das intrigas dentro da casa. Só isso.

Contudo, é tecnicamente impossível ficar alheio aos fatos que transcorrem naquele ambiente, ou não conhecer ao menos parte dos personagens que o habitam. Tais informações estão em toda parte, não há como fugir delas. Seria necessário passar cem dias isolado no meio da Floresta Amazônica para ignorar totalmente o que acontece no BBB.
Então, em dado momento, soube que transcorria o último paredão antes da final, e que estavam na berlinda o Arthur, o Eliezer e o DG. Este último já havia conquistado minha simpatia há muito mais tempo, por sua excelente atuação em Cidade de Deus e Cidade dos Homens, e por seu estilo animado e bonachão. E, entre os outros dois, decidi apostar minhas fichas no Eliezer.

Talvez essa decisão, quase que involuntária, tenha relação com a tendência inerente à maioria dos seres humanos de torcer pelo mais fraco. Neste domingo, por exemplo, estarei torcendo pelo Fortaleza contra o Corinthians (a mesma lógica, porém, não vai se aplicar para Inter x Avaí, por razões óbvias).

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Pelo que eu soube, o Eliezer, embora muito azarado, converteu-se no último remanescente de certo grupo – Os Pipocas, Os Pirulitos, ou algo do tipo – que, sistematicamente, foi sendo exterminado dentro da casa. Solitário, tornou-se o grande alvo de deboche do núcleo que encontrava-se em vantagem numérica. Tornou-se o isolado, o excluído, o pisoteado.

Nisso, o camaradinha de bigodes ao estilo do século 19 conquistou minha simpatia e – pensava eu – a torcida dos brasileiros. Tal impressão ganhou força quando fui informado de que o Eliezer já havia despachado, em outro paredão, um certo Gustavo, expoente do grupo rival, que havia se autointitulado como “O Caçador de Pirulitos”, ou algo do tipo.

E, quando soube desse último paredão, com Arthur, Eliezer e DG, decretei, em uma conversa com minha filha Isadora:

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– É agora que o Arthur vai bailar.

l l l

Admito: falei sem muita convicção. No fundo, falei-o mais para inticar com a Isadora, que, acertadamente, já previa o Arthur como campeão. E ela prontamente anunciou:

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– Pois te dou dez pratas se isso acontecer!

– Que seja! – devolvi, já prevendo que, depois, recolocaria os R$ 10,00 no cofrinho de economias dela.

Contudo, assim que o Tadeu Schmidt anunciou a desclassificação do Eliezer, Isadora veio me cobrar os R$ 10,00 que, segundo ela, teríamos apostado. Argumentei que eu não havia apostado nada – ela é que havia dito que me daria o dinheiro em caso de derrota do Arthur, eu não havia prometido nada se houvesse o contrário. Mas Isadora não se convenceu e anunciou que ainda me cobraria juros abusivos, de 100% ao dia, em caso de atraso no pagamento.
Por pura teimosia não paguei e, no dia seguinte, Isadora veio anunciar que eu já lhe devia R$ 20,00. Zombeteiro, mandei que ela fosse cobrar a dívida nos tribunais.

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– Mas pai – retrucou a Isadora –, eu nem tenho advogado…

Foi então que a caçula, Ágatha, intrometeu-se na conversa. Empertigada, virou-se à irmã mais velha e avisou:

– Pois agora tem! Deixe comigo!

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Porém, a seguir baixou o tom para perguntar:

– O que faz um advogado?

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Uma vez esclarecida sobre as suas atribuições como advogada, Ágatha passou a confabular com a irmã sobre as estratégias e argumentos a serem apresentados perante o juiz e – claro – sobre os seus honorários. E, nesse quesito, ainda não houve acordo entre defensora e cliente. O BBB até já acabou e as duas continuam discutindo percentuais.
Com isso, a causa segue parada – o que não me favorece muito. Os juros de 100% ao dia continuam correndo.

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