Apenas quatro meses do ano se passaram e já tivemos praticamente de tudo em relação ao clima, desde a estiagem à chuvarada. E assim voltaram à tona planos e palpites sobre soluções, quase todas paliativas, mas logo esquecidas, ou, como se diz popularmente, foram por água abaixo na primeira chuva. O Brasil é um dos países com maior disponibilidade de água por habitante no planeta, mas volta e meia se veem problemas de abastecimento e na produção rural, setor sempre sensível ao comportamento do tempo, pois trabalha a céu aberto.
Muitos programas, planos hídricos e de irrigação surgiram nas últimas décadas no Estado e no País. Mas os avanços são tímidos. Temos uma das maiores riquezas do mundo, que é a abundância de água, mas não cuidamos dela devidamente e poucos fazem o uso de forma racional. O jornalismo nos proporciona conhecer muitos lugares diferentes. E há exatamente seis anos tive a oportunidade de acompanhar a missão a Israel de uma comitiva da região, articulada pelo Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede), em parceria com outras entidades, para conhecer os avanços tecnológicos do país do Oriente Médio na agricultura. E uma das referências é o manejo da água, com alta produtividade mesmo com grande parte da área em terras desérticas e de clima semiárido.
A média de chuva em Israel é de 500 milímetros ao ano, semelhante ao semiárido nordestino no Brasil. Apenas para ter um comparativo, no norte do Mato Grosso a média é de 2 mil milímetros ao ano. Outro dado que chama a atenção no país do Oriente Médio: mais de 75% da água de esgoto é reutilizada e quase 50% da produção agrícola é abastecida com o produto do reuso. Os produtores rurais economizam ao máximo os recursos hídricos e os alimentos recebem água na medida certa, pois todo esse processo para viabilizar a reutilização encarece o fornecimento.
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A necessidade de criar tecnologias para superar as condições adversas tornaram Israel umas das nações com as mais avançadas técnicas de produção agrícola, com exportação de produtos e conhecimentos, mesmo com a pequena extensão territorial, semelhante ao Estado de Sergipe. Situado em uma das regiões mais áridas do mundo, o país do Oriente Médio foi pioneiro nos conceitos de irrigação por gotejamento, reciclagem, purificação e reutilização de águas residuais para fins agrícolas.
Aqui no Brasil, na maior parte, chove regularmente, temos muitos rios e outras fontes e a obtenção de água tem custo baixo se compararmos com Israel. Mesmo assim, basta um mês sem chuva e logo se nota o impacto, não apenas na agricultura, mas no abastecimento de diversos municípios. Pode-se dizer até que existe imprudência em não captar água da chuva e, assim, fica-se a mercê das nuvens no céu. E, da mesma forma, poucos cuidam bem dos nossos rios, arroios, sangas e fontes de água. As bacias hídricas são como o sistema circulatório do sangue no corpo humano: se não funcionar bem, a pessoa adoece.
Perfurar poços, abrir aguadas e outros procedimentos sempre que há alguma estiagem não passam de medidas paliativas. É necessário trabalhar em algo mais concreto para o solo se manter úmido por mais tempo, termos água de qualidade correndo pelos nossos rios e arroios e garantirmos a manutenção das fontes. E isso vale também para as cidades, onde o avanço imobiliário muitas vezes não mede as consequências futuras. Bons exemplos existem bem perto, como os programas de recuperação e de manutenção das nascentes em Vera Cruz, Sinimbu, Candelária e alguns outros municípios da região. Também há projetos de uso sustentável do solo e de armazenagem de água. Mas ainda são tímidos e há necessidade de maior estímulo por parte de todos os poderes da sociedade para a conscientização e a adesão de toda a comunidade.
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