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ENTREVISTA: o capitão Adilson Batista relembra o bi da América

Desde que saiu do Cruzeiro, em março passado, Adilson está sem clube | Foto: Bruno Haddad / Cruzeiro

O dia 30 de agosto de 1995 jamais sairá da memória do torcedor gremista. Sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o Tricolor conquistou a Copa Libertadores da América pela segunda vez, feito que completa 25 anos neste domingo. Na final, venceu o Atlético Nacional por 3 a 1 no Olímpico e empatou por 1 a 1 na Colômbia, com gol de pênalti marcado pelo volante Dinho – na época, o goleiro da equipe de Medellín era o folclórico René Higuita.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, o capitão e ex-zagueiro Adilson Batista, de 52 anos, hoje técnico de futebol, relembra as façanhas do time, que fez história com o presidente Fábio Koff, já falecido, e o vice Luiz Carlos Martins, o Cacalo. Segundo Adilson, a principal marca dos comandados de Felipão era o espírito aguerrido em campo. “A gente jogava e não deixava jogar. Era um time que tinha uma alma copeira, de não se entregar”, ressaltou o ex-atleta, que atuava ao lado do paraguaio Rivarola.


Sem clube desde a sua saída do Cruzeiro, em março passado, ele aguarda uma nova oportunidade para assumir a casamata. “É um processo que a gente sempre vive e temos que aguardar. Estamos acompanhando, o mercado é assim, exigente, e a nossa cultura funciona assim. Temos que ter um pouquinho de paciência”, ponderou. Adilson falou ainda sobre as suas referências de treinadores, a rivalidade Gre-Nal, que considera a maior do Brasil (e por que não dizer do mundo), além da transição de jogador, cuja carreira encerrou-se com apenas 33 anos, para técnico.

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De pênalti, Dinho marcou o gol de pênalti que garantiu o bicampeonato


ENTREVISTA
Adilson Batista
Ex-zagueiro e capitão gremista

Gazeta do Sul – Que recordações o senhor tem daquela conquista na Colômbia?
Adilson Batista – São as melhores possíveis, um bom time, bem formado, competitivo, só lembranças boas.

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Quais as semelhanças da equipe de 1995 com a de hoje?
Aquela geração foi vitoriosa, vencedora, ela tem uma história importante dentro do clube, como as demais. Hoje o Grêmio também vive um grande momento, importante e de conquistas. A gente fica feliz que é uma geração que também está marcando, porque gostamos do clube. Existe muita coisa boa que precisamos enaltecer.

O torcedor sabe de cor aquele time…
(Risos) Quando a gente vai ao Rio Grande do Sul, somos sempre bem tratados, as pessoas gostam e lembram. Aquele grupo marcou, ficamos contentes. Foi um grande trabalho do doutor Fábio (Koff, presidente à época), Cacalo (vice-presidente), Felipão (treinador), Paixão (preparador físico), seu Verardi.

O time era muito bom, tínhamos um grupo com muita harmonia, muito respeito e bons jogadores. Se formos olhar, tinha uma base – Danrlei, Roger, Carlos Miguel, Arilson, Emerson – e chegou muita gente de fora – Arce, Rivarola, eu, Dinho, Goiano, Jardel, Paulo Nunes. Chegou muita gente que agregou, acho que deu um casamento muito legal, culminou com vários anos de a gente incomodar, ganhar e chegar. O torcedor ficou muito contente com esse período.

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Adilson (terceiro da esquerda para direita, em pé) era o “Capitão América”


Qual era a grande marca dessa equipe do Felipão?
A gente jogava e não deixava jogar. Era um time que tinha uma alma copeira, de não se entregar, um time aguerrido. O torcedor jogava junto, me recordo que no Olímpico fazíamos grandes jogos. Só tenho boas lembranças daquela época.

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Como foi a transição da carreira de jogador para treinador?
Infelizmente foi muito cedo, com 33 anos, ainda jovem. Achei que era o momento. Fui buscar os cursos, fazer os estágios com os profissionais. Tive a sorte de ter grandes treinadores que me ajudaram nesse período, e trabalhei com grandes treinadores que contribuíram. Acredito que foi uma experiência boa e enriquecedora também.

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O senhor pretende voltar a comandar uma equipe?
Sim, claro, isso faz parte da nossa profissão. Ela é sempre difícil, árdua, vivemos em função do resultado, é um processo que a gente sempre vive e temos que aguardar. Estamos acompanhando, o mercado é assim, exigente, e a nossa cultura funciona assim. Precisamos ter um pouquinho de paciência. Aqui as equipes têm as suas oscilações e a gente retoma.

Em quem o senhor se inspirou para ser treinador?
Várias pessoas contribuíram ao longo da minha passagem como atleta: Ênio Andrade, Felipão, Nelsinho Baptista. É muito mais fácil ser atleta. A função de treinador é bem mais árdua. O grau de exigência é maior, a responsabilidade, envolve uma série de fatores. É muito mais trabalhoso, mas também prazeroso, elaborar, executar, ensinar, você ajudar no processo de instrução do profissional. Ganhar e perder faz parte do jogo. É muito gostoso você estar no campo e ver aquilo que você planejou, é uma satisfação enorme.


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O senhor também jogou no Internacional. A rivalidade Gre-Nal é a maior do Brasil?
É uma rivalidade gostosa. O povo do Rio Grande do Sul é diferente, mais culto, mais exigente. Sou paranaense; nós, do Sul, temos um grau de exigência maior, e no futebol não é diferente. A gente vê uma rivalidade muito maior, uma cobrança maior. Se você pegar o número de títulos e o histórico para se chegar às finais de um Brasileiro, de uma Libertadores, de uma Supercopa, de uma Recopa, de um Mundial.

Se você não tem o dinheiro de um estado como São Paulo, você vê quem chega e o Rio Grande está sempre chegando, também temos que analisar por esse aspecto. Sei da força que Gre-Nal tem e da exigência, acho que é a maior rivalidade, não só do Brasil, mas do mundo. O Gre-Nal passa dos seus limites, e a paixão é acalorada.

Qual a melhor dupla de zaga: Geromel e Kannemann ou Rivarola e Adilson?
(Risos) Ou Baidek e De Léon. Costumo dizer que todos tiveram a sua importância, todos deram a sua contribuição, têm o seu valor, são épocas diferentes. Todos tiveram o privilégio de vestir essa camiseta, que é sagrada, imortal, bonita, respeitada, e a gente está na memória do torcedor, isso que é o mais importante. Tenho um respeito muito grande por todos eles. Deixo para o torcedor fazer essa brincadeira. Cada um no seu tempo e temos que respeitar, independente se ganhou ou não o Mundial.

Na avaliação do senhor, o que aconteceu com o Cruzeiro, seu último clube?
Você assume um time, onde vai para ajudar, porque já tem uma história no clube, foram cinco anos como atleta e mais três como treinador. Aí acontece uma reformulação, onde você troca 90% do elenco, aí tem 80% de jovens, você precisa de paciência até chegar o início da Série B, que seria em maio, e as pessoas não têm essa paciência. Era um grupo gestor, onde não tinha presidência, tanto que essa presidência deixou de pagar R$ 5 milhões e perderam seis pontos na largada da Série B.

A gente fica triste, porque não tive uma reunião sobre o planejamento, não foram lá para dizer o que seria o objetivo do clube. O Cruzeiro foi assaltado, roubado, prejudicado, foi tomado por empresários, lesado por muita gente. Você fica triste por um clube que era modelo, que era sério. Trabalhei lá por oito anos, sempre recebi em dia, o clube sempre foi organizado e cumpriu com suas obrigações. O Cruzeiro é o único clube, fora do eixo Rio-São Paulo, que venceu o Campeonato Brasileiro na era de pontos corridos. Ou seja, é um time extremamente organizado, é o maior vencedor da Copa do Brasil. Alguma coisa fizeram de errado com o Cruzeiro. Entrei num lado em que entra o lado político também, sou amigo de outras pessoas. Então, sobrou para mim também.

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