“Vizinhos, aqui tremeu tudo!”
“Explosões e tremores não são raros.”
“Foi uma explosão mais forte que as costumeiras.”
“Será que podem explodir uma quantidade grande assim de uma só vez?”
Esses relatos até poderiam ser confundidos com possíveis depoimentos de sobreviventes e testemunhas da explosão ocorrida terça-feira, 4, no armazém que guardava fertilizantes, na zona portuária de Beirute, no Líbano. Contudo, os desabafos expostos em um grupo de WhatsApp referem-se a um fato ocorrido em plena Santa Cruz do Sul – mais precisamente, em parte da Zona Norte da cidade.
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A data também foi a mesma: terça-feira, no começo da tarde. Tratou-se de um desmonte de rocha praticado pela Brita Ouro Preto, que fica localizada ao lado do Aeroporto Luiz Beck da Silva, em Linha Santa Cruz. A explosão foi sentida por santa-cruzenses que vivem no Condomínio Reserva dos Pássaros, na Avenida Melvin Jones, a cerca de um quilômetro e meio da britadeira.
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A empresa usa explosivos para fragmentar pedras e realizar a extração, beneficiamento e comercialização de rocha de basalto e de pedra britada. Os dois locais – o condomínio e a pedreira – são separados territorialmente apenas pelo trevo de acesso da RSC-287 à via urbana.
Os moradores relatam que a explosão ocorrida na tarde de terça-feira foi mais estridente do que as normais já sentidas por eles. “É um fato que acontece de forma recorrente, mas essa de terça-feira foi bastante forte ”, afirmou Eduardo Tevah, que vive no Condomínio Reserva dos Pássaros há cinco anos. Além do barulho, um tremor foi logo relatado no grupo dos moradores.
“Um engenheiro já me falou que estamos em cima da mesma rocha. Quando ocorre esse abalo sísmico, todas as casas que estão com essa fundação sobre a mesma rocha sentem”, comentou Tevah. A última explosão que ele sentiu enquanto estava em casa foi registrada no grupo em 19 de maio. “Ainda brinquei com os outros moradores: alguém deixou cair um lenço?”
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Já nesta semana, o estrondo foi bem mais assustador. “Me apavorei, pois essa foi bem diferente das outras vezes, foi bem mais forte”, contou outro morador do Reserva dos Pássaros, Adriano Copetti, que também reside no local há cinco anos. Ele estava trabalhando em home office no momento da explosão.
Segundo o morador, embora não seja possível confirmar se há relação com as explosões, rachaduras nas residências do condomínio são comuns. O medo de deslizamentos por causa das movimentações de solo na região íngreme e a poluição em razão do desmatamento da área, nas imediações do Cinturão Verde, também são motivos de preocupação entre os residentes do Reserva dos Pássaros.
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“O trabalho é assim”, diz proprietário da empresa
A realização da explosão na terça-feira, 4, foi confirmada pelo proprietário da Brita Ouro Preto, Evandro Trevisan. “Utilizamos explosivos para fazer o fragmento para britagem. O trabalho é assim mesmo e é fiscalizado por todos os órgãos fiscalizadores”, comentou Trevisan.
“Há o barulho, não tem tremor de terra. Inclusive, enviamos ao Exército os relatórios de um sismógrafo, o que somos obrigados a fazer”, complementou. O sismógrafo é o aparelho utilizado para detectar e registrar terremotos e movimentos no solo.
Sobre o barulho ter sido maior do que o normal, de acordo com os relatos dos moradores, Trevisan acredita que o clima pode ter influenciado. “O vento pode dar a impressão de o barulho ser diferente, mas é sempre a mesma coisa que fazemos. Isso tudo (o material coletado) vai em cima de um caminhão, não tem como colocarmos mais”, explicou o proprietário da Brita Ouro Preto.
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Segundo a Prefeitura de Santa Cruz do Sul, não há registro de irregularidades de parte da empresa. De acordo com o Palacinho, a Brita Ouro Preto recebeu no ano passado uma licença de operação para extração e britamento de pedras e outros materiais para construção. Essa licença vence em 2024.