Promotor desde 1991, Eduardo Ritt, de 57 anos, responde pela 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Santa Cruz do Sul e foi responsável por produzir denúncias à Justiça em alguns dos principais casos policiais da história do município. Mas foi longe da cidade, ainda no início de sua carreira, que ele viveu umas das experiências mais tensas como representante do Ministério Público.
Há quase 29 anos, em 10 de janeiro de 1996, Ritt precisou intermediar uma negociação com trabalhadores sem-terra que tinham invadido a Fazenda do Salso, em Palmeira das Missões. Era uma área com 2,5 mil hectares na época, de propriedade do ex-deputado estadual Plínio Dutra, dedicada ao cultivo de soja, milho, trigo e pecuária de corte. O episódio foi contado por ele no podcast Papo de Polícia, produzido pela Gazeta Grupo de Comunicações.
ASSISTA: VÍDEO: Papo de Polícia recebeu promotor de Justiça
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“Os sem-terra ficaram na beira da rodovia acampados durante um mês. Tinha homens, mulheres e crianças. E um colega meu, promotor da área da Infância e Juventude, instaurou um procedimento para averiguar a condição em que aquelas crianças estavam. Ele saiu de férias, e eu assumi as funções”, contou Ritt, que atuou nas comarcas de Panambi, Encruzilhada do Sul, Palmeira das Missões e Venâncio Aires antes de assumir a Promotoria em Santa Cruz do Sul.
Na oportunidade, cerca de 4 mil trabalhadores sem-terra estavam no local. “O que aconteceu na sequência foi que aquele pessoal saiu da rodovia e invadiu a fazenda, que era conhecida”, complementou Ritt. Após ser solicitada judicialmente, a juíza Elisa Carpim Corrêa concedeu liminar de reintegração de posse ao proprietário, determinando que a polícia intercedesse para reivindicar a área privada.
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“Veio toda a mídia do Brasil acompanhar. Os sem-terra não saíam e, enquanto a Brigada Militar trabalhava para arregimentar equipes que estavam na Operação Verão para levá-las até Palmeira das Missões, a televisão ficava mostrando os sem-terra treinando manobras de defesa, correndo com estacas e construindo trincheiras. Logo pensei que se a Brigada chegasse ali e invadisse, ia dar morte”, comentou Ritt.
“Conflito poderia ser terrível”
O promotor Eduardo Ritt falou sobre o janeiro tenso que se apresentava, diante da situação. A coordenação dos sem-terra na época afirmava que eles iriam permanecer ali até o governo conseguir assentá-los. “Foi quando tive uma ideia. Entrei com uma liminar naquele processo que meu colega tinha instaurado em virtude das crianças, pedindo a suspensão da retirada dos sem-terra. A juíza aceitou e, enquanto isso, fomos conversar com eles. Consegui fazer com que saíssem, sem problema, sem dar guerra”, detalhou.
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Ritt relembrou que, em um primeiro momento, houve contrariedade de algumas pessoas ao seu pedido para revogar a retirada imediata dos sem-terra. “Se a Brigada Militar entrasse, o resultado daquele conflito poderia ser terrível. Então, conversamos com os sem-terra e resolvemos aquilo. Veio o Incra, fizemos um acordo e eles saíram da Fazenda do Salso sem maiores problemas”, contou. Dessa forma, Ritt conseguiu evitar que uma tragédia com proporções muito graves acontecesse no Estado.
Em duas temporadas, o podcast Papo de Polícia apresentou 17 entrevistas. Os episódios com o promotor Eduardo Ritt e os outros convidados podem ser assistidos no YouTube do Portal Gaz. O áudio também foi disponibilizado no Spotify, na aba Gazeta Podcasts.
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