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BASTIDORES

Como o vigilante preso fez para furtar mais de cem armas sem ser descoberto

Foto: Rodrigo Assmann

Acusado de 35 anos foi capturado em 7 de novembro e permanece detido no presídio

O juiz Guilherme Roberto Jasper, da Vara Judicial de Vera Cruz, aceitou a denúncia contra o vigilante de 35 anos que, conforme investigações da Polícia Civil e do Ministério Público (MP), furtou de uma empresa de segurança mais de cem armas de fogo. O caso gerou repercussão há um mês, em 7 de novembro, quando agentes da Delegacia de Polícia (DP) de Vera Cruz, coordenados pela delegada Lisandra de Castro de Carvalho, deflagraram a operação Senhor das Armas.

Na oportunidade, durante cumprimento de mandado de prisão preventiva autorizado pela Justiça na residência do investigado, na região central de Vera Cruz, os policiais apreenderam um revólver calibre 38 com numeração raspada, 116 cartuchos de munição calibre 38, 32 cartuchos de 12, coldre, dois radiocomunicadores e um HD. Ainda encontraram R$ 30.752,00 em dinheiro, enrolados em pequenos pacotes escondidos em cima de um armário.

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O inquérito policial produzido pela delegada Lisandra foi finalizado no dia 13 de novembro. Já a denúncia assinada pela promotora Maria Fernanda Cassol Moreira no dia 27 foi aceita pelo juiz Guilherme no dia 30. A Gazeta do Sul teve acesso com exclusividade a bastidores da investigação. Entre os detalhes do caso está que a polícia apurou como o vigilante fazia para furtar o armamento sem que ninguém na sua empresa percebesse.

As subtrações, conforme a Polícia Civil e o MP, aconteceram entre 3 de julho e 22 de outubro deste ano. A partir de informações apuradas pela DP de Vera Cruz, descobriu-se que o acusado tinha grande conhecimento sobre eletricidade. Enquanto funcionário, ele trabalhava de domingo a quinta-feira, das 22 horas às 6 horas. O vigilante tinha total acesso à central de monitoramento de câmeras, onde podia desligar os sistemas de forma manual acessando um software no computador da recepção.

Quando isso acontecia, gerava o chamado “erro de usuário 99”, o que desativava todos os sistemas e câmeras. Porém, em uma oportunidade, por alguma casualidade, mesmo tendo realizado a ação de desligar o monitoramento, o sistema demorou a cair, e foi possível constatar o réu montando uma escada para ter acesso a uma central de alarmes, para desligá-los. Para acessar a sala das armas, é necessário digitar uma senha que somente o dono da empresa possui.

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Por isso, conforme apurado, o investigado teria feito de forma manual o desligamento de todos os sistemas da empresa – o que gerou o “erro de usuário 99” – para entrar no local onde estava o armamento. Nessa sala, o proprietário da empresa ainda tinha instalado uma câmera interna. No dia 16 de outubro, quando o investigado teria forçado o desligamento da energia elétrica, houve uma desconfiguração nessa câmera.

O vigilante, então, sabendo que teria feito um movimento que podia entregá-lo, enviou um áudio ao proprietário, afirmando que tinha desligado a luz do prédio para consertar uma tomada. Isso gerou suspeita. Foi possível identificar, conforme laudo técnico, que os furtos começaram em julho, período em que se constatou o início dos desligamentos manuais dos sistemas.

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Segundo as investigações da Polícia Civil, ao todo foram furtados da empresa de segurança 106 revólveres, uma pistola calibre 380 e uma espingarda calibre 12, além de 1.562 munições de calibre 38, 185 de calibre 380 e 80 de calibre 12.

“Questões em aberto”, diz advogado do réu

O vigilante, que permanece detido no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, é réu por furto duplamente qualificado (por ser praticado durante o repouso noturno e com abuso de confiança) em pelo menos oito oportunidades, e posse de arma de fogo com numeração raspada (encontrada na casa dele, no dia da operação). No indiciamento da Polícia Civil, ainda havia o crime de lavagem de dinheiro imputado para o acusado.

LEIA MAIS: Investigação vai apurar se vigilante que furtou armas também cometeu lavagem de dinheiro

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Contudo, o MP entendeu que não havia comprovação para enquadrá-lo também nesse delito, e pediu o afastamento do crime na denúncia final, tendo o juiz Guilherme arquivado o caso sobre a lavagem de dinheiro. Em depoimento à polícia, o acusado reservou-se o direito de permanecer em silêncio. A Gazeta do Sul entrou em contato com o advogado de defesa do vigilante.

O criminalista Luiz Carlos Rech confirmou que deve apresentar a defesa de seu cliente nos próximos dias, e que o homem de 35 anos nega as acusações sobre os furtos. “Por ora, vamos apresentar a resposta às acusações, mas ainda há uma série de questões em aberto que vamos buscar esclarecer no decorrer do processo sobre este caso”, salientou o defensor .

O nome do investigado, por enquanto, permanece sendo mantido em sigilo pelas autoridades.

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Moto também foi levada de empresa

A análise do celular do vigilante, feita posteriormente à prisão, após autorização de quebra de sigilo telefônico pela Justiça, também foi elemento que robusteceu o inquérito. Em conversa por aplicativo de mensagens, foi possível identificar um homem que demonstrou saber que o acusado vendia armas.

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O vigilante, então, afirma que não tinha mais naquele momento, e estaria apenas com um revólver calibre 38, que seria seu. “Identificamos e ouvimos essa pessoa, que buscava adquirir uma pistola, em um período compatível com as datas em que ocorreram os furtos, pois sabia que o investigado estava vendendo. Contudo, não foi possível efetuar o negócio porque ele já tinha comercializado todas”, explicou a delegada Lisandra.

Outros depoimentos obtidos pela DP de Vera Cruz, inclusive com pessoas próximas do investigado, indicaram que ele vinha furtando e vendendo as armas. No inquérito, ainda foi levantada uma situação suspeita. No dia 28 de julho, uma motocicleta Honda NXR, 150 cilindradas, foi furtada do pátio da mesma empresa de segurança. Houve a desconfiança de que o vigilante tenha facilitado a ação dos ladrões, principalmente porque o investigado havia deixado, coincidentemente, a chave na ignição.

Além disso, pelas câmeras, os autores do furto demonstravam saber de peculiaridades em um acesso específico que somente quem tinha informação privilegiada conseguiria passar. A mesma moto furtada no local foi identificada em uma ocorrência menos de um mês depois.

A Honda estava sendo tripulada por dois criminosos e foi apreendida no dia 19 de agosto, durante a Operação Cerco Fechado. A Brigada Militar abordou a dupla armada que estava no veículo, em Santa Cruz, na região da subestação de energia do Bairro Santo Antônio, na Avenida Deputado Euclydes Kliemann, após apurar a informação de que eles cometeriam um assassinato na Zona Sul da cidade.

“Questões em aberto”, diz advogado do réu

O vigilante, que permanece detido no Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, é réu por furto duplamente qualificado (por ser praticado durante o repouso noturno e com abuso de confiança) em pelo menos oito oportunidades, e posse de arma de fogo com numeração raspada (encontrada na casa dele, no dia da operação). No indiciamento da Polícia Civil, ainda havia o crime de lavagem de dinheiro imputado para o acusado.

Contudo, o MP entendeu que não havia comprovação para enquadrá-lo também nesse delito, e pediu o afastamento do crime na denúncia final, tendo o juiz Guilherme arquivado o caso sobre a lavagem de dinheiro. Em depoimento à polícia, o acusado reservou-se o direito de permanecer em silêncio. A Gazeta do Sul entrou em contato com o advogado de defesa do vigilante.

O criminalista Luiz Carlos Rech confirmou que deve apresentar a defesa de seu cliente nos próximos dias, e que o homem de 35 anos nega as acusações sobre os furtos. “Por ora, vamos apresentar a resposta às acusações, mas ainda há uma série de questões em aberto que vamos buscar esclarecer no decorrer do processo sobre este caso”, salientou o defensor .

O nome do investigado, por enquanto, permanece sendo mantido em sigilo pelas autoridades.

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