Doutor em Letras e professor titular de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o poeta, ensaísta e crítico literário Antonio Carlos Secchin é, aos 72 anos, um dos mais importantes e influentes intelectuais da atualidade no Brasil. Com vasta obra, que se vincula a diferentes gêneros, com ênfase na poesia e no ensaio, e também organizador de importantes antologias, é membro da Academia Brasileira de Letras, na qual, desde 2004, ocupa a cadeira de número 19. É também o atual secretário-geral dessa entidade.
Secchin nasceu no Rio de Janeiro, capital, em 10 de junho de 1952. Ali mesmo, em sua cidade natal, fez sua caminhada de formação, e logo com relevante inserção cultural. Uma de suas primeiras contribuições de maior vulto foi o livro João Cabral: a poesia do menos e outros ensaios cabralinos, de 1999, que recebeu prestigiosas premiações. Antes, e também depois, produziu ainda elogiadas obras em poesia e crítica. Sua trajetória foi detalhada e apreciada em um volume específico, Secchin, uma vida em letras, lançado em 2013.
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Com contribuições e intervenções sempre oportunas e valiosas na cena cultural nacional, e que reverberam no exterior, Secchin é interlocutor de escritores e artistas de diferentes gerações. E foi para refletir sobre sua vida e sua obra, e sobre o panorama literário e artístico da atualidade no Brasil, que ele concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, por e-mail.
Entrevista
O senhor tem longa trajetória como escritor e como professor. Na produção escrita, especialmente em poesia e ensaio. Com qual gênero de texto o senhor mais se identifica?
Poesia e ensaísmo se entrelaçam na minha trajetória. Quantitativamente, a produção ensaística é maior, pois há constante pedido de textos críticos, resenhas, enquanto a solicitação de poemas é bem mais escassa. Muitas vezes o escritor produz “sob demanda”, não? Mas falo de entrelaçamento porque, quanto possível, sou bem severo quando escrevo poemas, fica aceso o olhar crítico e vigilante contra facilitações, desleixos. Por outro lado, considero que certos elementos mais relacionados ao poema, tais como o ritmo, a sonoridade da frase, também podem se fazer presentes na prosa ensaística. Poeta e crítico às vezes se desentendem, mas tento sempre conciliá-los.
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Em 2013 foi organizado o volume “Secchin – Uma vida em Letras”. O que efetivamente motivou seu envolvimento com esse universo da literatura, da leitura? Como iniciou esse contato com as letras?
Gosto de pensar que sou escritor graças à Matemática: como fugi dela desde o primário, só me restava correr para o outro lado, que na época se chamava “Linguagem”. Brincadeira à parte, sempre fui fascinado pelas palavras, desde os 4 anos queria ler, me alfabetizei precocemente. O idioma é inesgotavelmente rico e eu, em meus limites, retribuo com o melhor que consigo, renovando sempre meu casamento em comunhão de bens com a língua portuguesa.
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O senhor também se ocupa de selecionar textos e organizar antologias de autores nacionais (Edla Van Steen, Castro Alves, João Cabral, Cecilia Meirelles, entre outros). É forma de mergulhar na vida e na obra de cada um? Com quem deles mais se identifica?
Com raríssimas exceções, só organizo edição de autor com quem tenho afinidade literária – e às vezes também pessoal, como foram os casos de Edla, João Cabral, Ferreira Gullar. Mas não há dúvida de que a sintonia maior foi com João Cabral, de quem estudei em detalhes todos os 20 livros, durante décadas. Eu deveria requerer ao INSS uma “aposentadoria em Cabral”!
O senhor entende que o ensaio vive um bom momento no Brasil, em termos de produção e também de acolhimento junto às editoras? Como o qualifica, na atualidade?
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Coincidentemente, pratico dois dos gêneros menos vendáveis do mundo – a poesia e o ensaio (sobre poesia).
O que observo – e lamento – é a existência de duas modalidades de discurso crítico aparentemente inconciliáveis. Na academia universitária, com frequência, predomina o jargão, a fala hiperespecializada, que a custo transpõe o território do campus. Do outro lado, na imprensa e na internet, lê-se com frequência um discurso de banalidades, de ação entre amigos (ou de ódio entre inimigos), com jeito de release. Admiro quem consegue fazer a ponte, quem consiga falar para todos os públicos, com um discurso ao mesmo tempo denso e acessível. Que o ensaio se torne um caminho para levar o leitor à obra, e não para torná-la inexpugnável a todos, salvo meia dúzia de eleitos.
O senhor integra a Academia Brasileira de Letras, sendo membro atuante da diretoria. Que papel a ABL cumpre e pode cumprir no ambiente cultural? Seus projetos e suas ações têm tido bastante visibilidade, não é mesmo?
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A ABL tem sabido se renovar, sem abdicar de seus compromissos com a memória cultural do país. Vários de seus recentes membros representam segmentos até então ausentes do mundo acadêmico. Oferece ciclos de palestras do alto mais nível, com entrada gratuita e transmissão ao vivo. Edita, em nova fase, a Revista Brasileira, com números temáticos abordando questões de grande atualidade. Convido todos os leitores a visitarem o site www.academia.org.br. Terão ótimas surpresas.