Quem aprecia a pintura e a literatura em Santa Cruz do Sul certamente conhece o trabalho de Valquíria Ayres Garcia. Além de autora de livros infanto-juvenis, Val – como é carinhosamente conhecida – se destacou, nas últimas duas décadas, pela contação de histórias e por coordenar mostras artísticas como instrutora de oficinas de cultura do Município.

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No último dia 4, lançou mais uma exposição, com 140 obras dos alunos que acompanhou neste ano. Essa, porém, tem um significado especial: é a última que ela apresenta à comunidade antes de sua aposentadoria no serviço público.

A trajetória de Val nas artes plásticas começou em sua terra natal, Cachoeira do Sul. Foi no Atelier Livre Municipal daquela cidade que ela desenvolveu as primeiras habilidades, que abriram oportunidades para trabalhar com arte em Uruguaiana, de 1989 a 1999, e, a partir de 2000, em Santa Cruz do Sul.

“Eu estava apresentando um teatro de fantoches no Shopping Santa Cruz e minhas primas me apresentaram para a Gardênia Quadros, que era coordenadora da Secretaria da Educação na época. Ela me viu lá e disse: ‘manda teu currículo’. No ano seguinte, eu já vim pra cá, de mala e cuia”, relembra.

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Aqui, ela começou vida nova. Logo depois, encontrou no “carinha da biblioteca” um amor cultivado até os dias atuais, que inspira muitas de suas produções. “A arte vai além, muito além da técnica. É pura emoção. Se não houver emoção, não creio que haja arte”, analisa.

Pela facilidade que tem em aprender a desenvolver diversas técnicas, Valquíria se constituiu como uma artista versátil. Ao longo dos 24 anos dedicados ao ensino nos cursos oferecidos pela Prefeitura, deu aulas de pintura em tecido, vidro, madeira, mosaico, fantoches, cerâmica, batik, entre muitas outras. Inicialmente contratada, depois tornou-se servidora de carreira ao ser aprovada em concurso público.

As preferidas dela, que é mãe de três filhas, sempre foram as aulas direcionadas às crianças. Uma das mais memoráveis é a famosa oficina de costura moda Barbie, que cativou gerações, formou várias estilistas mirins e rendeu muitas amizades. “Quando estou com uma turma, me entrego de corpo e alma. A gente se apega, vira amigo. Não é só pela arte que os alunos vêm; muitas vezes é pelo encontro”, afirma.

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Aliado a tudo isso, Valquíria sempre cultivou com muito entusiasmo a prática de contação de histórias, que a deixou conhecida e admirada por alunos das várias escolas municipais pelas quais passou ministrando oficinas. “Eu nem imaginava que fosse ter livros publicados, mas sempre escrevia as próprias histórias que ia contar para eles, porque sempre gostei muito de criar, para exercitar a minha criatividade”, comenta.

Dessa atividade nasceu a paixão pela escrita ilustrada para o público infantojuvenil. Hoje, já são dez obras publicadas. Um dos mais conhecidos é o livro bilíngue O sapo Sapofe, que narra a divertida história de um sapo que aprendeu a falar alemão. Agora, a 11ª publicação está prestes a ser lançada. É o livro Por que eles vieram?, uma homenagem aos 200 anos da imigração germânica no Brasil.

A jovial artista encerrou a carreira no serviço público na última quinta-feira. Ela agora deixa um legado de incontáveis alunos – crianças, adolescentes e adultos – que, além de aprender as técnicas da pintura, encontraram em suas aulas o afável aconchego com chazinho e troca de experiências.

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Mas, apesar da aposentadoria na Prefeitura, Valquíria, cheia de vitalidade, nem cogita parar por enquanto. “Quem é artista sempre acha um meio de continuar trabalhando, né? De continuar deixando uma marca”, avalia.

E assim ela segue aberta a novas possibilidades, com planos de se dedicar a projetos pessoais, sem perder o contato com os alunos. “Dei o que pude dar de mim, porque quando a gente trabalha com o que gosta, a gente se entrega verdadeiramente. Mas a aposentadoria não é o fim de um caminho, na minha visão. É simplesmente continuar a caminhada de outras maneiras.”

Sobre a exposição

A última mostra de pinturas dos cursos que Valquíria ministra por meio da Secretaria Municipal de Cultura permanece no Centro de Cultura Jornalista Francisco José Frantz, na Estação Férrea, até o próximo dia 29. São cerca de 140 obras, resultantes de aprendizados de março a outubro deste ano para 40 alunos. A visitação fica aberta de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 16h30.

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