Produtora de Linha Travessa, no interior de Santa Cruz do Sul, Simone Walter expôs em seu estande na Feira Rural Central as caixas de morangos colhidas na propriedade. Poucos minutos após a abertura dos portões, os clientes se aproximaram para adquirir seus pacotes. Ela calculou que havia menos de 10 quilos disponíveis. Nos períodos mais chuvosos, costuma levar de 15 a 20 quilos, mas quando o clima é favorável, pode chegar a 50. Antes de a feira acabar, não havia mais morangos no balcão. “A procura está alta, não conseguimos suprir”, afirmou a produtora.
Simone e a família começaram a colher em agosto e esperam concluir o trabalho na metade de dezembro. Em outros anos, os 6 mil pés plantados renderiam cerca de 6 toneladas. “Conforme estudos realizados, cada pé de morango tem capacidade de produzir 1 quilo. Mas com a alteração climática não será possível”, explicou a produtora. Dessa vez, acreditam que não vai chegar a 2 mil quilos, quantidade muito abaixo da esperada. “Vai faltar morango. Não vai ter a abundância dos anos anteriores”, ressaltou.
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A queda na produção, que também afetou o tamanho das unidades colhidas, fez com que o preço aumentasse. Simone estima que o valor do quilo tenha subido cerca de 25%, em razão do aumento de despesas, especialmente quanto à manutenção.
De acordo com especialistas da Emater/RS-Ascar, a produtora não foi a única com quebra na safra. O chefe do escritório de Santa Cruz, engenheiro agrônomo Assilo Martins Corrêa Júnior, explicou que a situação é similar para os demais 28 produtores do município, que plantam para venda em uma área de 1,6 hectare. “Esse relato é geral”, enfatizou.
O técnico estimou uma queda de 35% a 50% na produção anual, que costumava ser, em média, de 48 toneladas de morango. Assim, diante da oferta reduzida e da alta procura, os preços vão ficar mais altos para os consumidores. “É uma forma também de remunerar um pouco mais o produtor e reduzir os custos.” Assilo explicou que o excesso de chuva e a pouca luminosidade comprometeram na fase inicial, atrasando o desenvolvimento e prejudicando o vigor das plantas. “Agora se observa uma boa produção nas estufas, mas o período de frutificação vai ser menor.”
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Os muitos efeitos negativos que vieram com a instabilidade
Matias Mauri Streck explicou que a instabilidade climática resultou no atraso da colheita em comparação aos anos anteriores. “Outubro normalmente era um mês de alta produção do morango. Na semana passada, por exemplo, tivemos garoa e tempo nublado. E para o morango não é bom, porque ele gosta de sol”, detalhou. A Cidade Histórica conta com 30 produtores. Anualmente, colhem cerca de 50 toneladas. Neste ano, contudo, as condições climáticas resultaram em uma série de problemas. Um deles foi a incidência de ácaro-rajado.
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Conforme Streck, a proliferação do inseto nas estufas se deve ao período chuvoso. “Ele prefere o ambiente seco, o que torna a estrutura um ambiente propício.” Com o manejo adotado pelos produtores nas últimas semanas e a elevação da umidade do ar, a incidência reduziu. As inundações no fim do primeiro semestre também impactaram a safra, mesmo nas propriedades que não tiveram a produção atingida. Isso porque, após as chuvas, houve um período de baixa luminosidade. “Ficamos quase dois meses sem sol, prejudicando o desenvolvimento”, explicou Streck.
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O excesso de água também favoreceu o aparecimento de doenças fúngicas que atacam a planta. Por se tratar de uma cultura que prefere temperaturas amenas, períodos com frio ou calor em excesso atrapalham o desenvolvimento. Assim, a recuperação da safra depende do clima para os próximos meses.
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Segundo o chefe do escritório da Emater/RS-Ascar de Rio Pardo, Matias Mauri Streck, o cultivo de morango pode ser dividido em duas variedades. A principal é a de “dias curtos”, plantada mais cedo, a partir de abril (quando a luminosidade diminui), e que necessita de menos luminosidade para o desenvolvimento. O ciclo dela é curto, encerrando-se ainda na primavera.
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Os produtores que plantam a variedade, segundo o técnico, foram prejudicados pelo clima. “O inverno foi de muita chuva e pouco sol, então passou praticamente sem produzir”, afirmou. Ele estimou uma perda de aproximadamente 50%.
A outra variedade é de dias neutros. Ela floresce continuamente, independente da quantidade de luz, e produz morangos por três anos. Essa característica favorece os produtores, que terão oportunidade de recuperar as perdas nos próximos meses, se as temperaturas não forem tão altas no verão. “Indiferente da variedade, as duas perderam até aqui. Só que uma delas tem condição de recuperar ainda para o verão. A outra já não tem mais, pois o ciclo acaba em dois meses”, explicou Streck.
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