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HISTÓRIA

Rostos das colônias

Os escravos e a liteira de Maria Júlia Pinheiro, a esposa do Visconde de São Leopoldo

A implantação das colônias alemãs (e, nos anos seguintes, de povoações com povos oriundos de outras regiões europeias) no Rio Grande do Sul e em várias áreas do Brasil vem cercada de muitos elementos situados na penumbra. Ou de muitas perguntas cujas respostas não são facilmente encontráveis. E é para ajudar a direcionar luz para esses interditos que um livro acaba de ser lançado, em meados de 2024, em pleno contexto das celebrações do bicentenário de imigração alemã no Estado.

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A obra Invisíveis: o lugar de indígenas e negros na história da imigração alemã é de autoria do casal de jornalistas Gilson Camargo e Dominga Menezes, ele natural de Porto Alegre, ela de Santiago, ambos radicados em São Leopoldo, este que foi justamente o palco da colônia alemã pioneira, a partir de 1824. A investigação que fizeram toma por base essa experiência inicial, com a fixação de famílias germânicas na sede da antiga Real Feitoria do Linho Cânhamo, às margens do Rio dos Sinos. Mas a abordagem e as reflexões podem ser facilmente transportadas também para as circunstâncias que envolveram muitas outras colônias no interior gaúcho, igualmente fundadas próximo de cursos d’água (que facilitavam o acesso, num primeiro momento) e em vales da Serra Geral.

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Camargo e Dominga revisaram a bibliografia sobre a colonização, tomando como parâmetro memorialistas, viajantes e historiadores, fossem os mais diletantes, fossem os vinculados à academia. Assim, enfatizam que o ambiente para o qual os colonos foram levados na verdade não constituía, exatamente, “terra devoluta”. A pioneira colônia de São Leopoldo, por exemplo, em área na qual o Império mantinha a Feitoria, era habitada por muitas famílias de escravizados, que trabalhavam justamente naquele empreendimento.

Antes ainda da chegada das primeiras famílias de germânicos, 321 desses escravos arrolados no inventário de bens da feitoria foram transportados para o Rio de Janeiro, a sede do império. Mas a presença de negros era ampla em toda a região, e como tal seguiria ao longo das décadas seguintes, nas quais o regime de trabalho escravo seguia vigente. Logo, ignorar ou minimizar tal presença, e seu papel econômico e social nos espaços rural ou urbano, seria não fazer justiça com a história.

O mesmo vale para povos originários, como a obra enfatiza. A região de entorno desde sempre era habitada por indígenas. E, ainda mais à medida que novas famílias de colonos chegavam e o povoamento avançava pelos vales ou chegava à encosta da Serra, os confrontos eram inevitáveis. Em muitas ocasiões, descambaram para violência ou mortes, com perseguições e retaliações de parte a parte, como Camargo e Dominga citam, apontando várias das ocorrências dramáticas.

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Em um momento da história no qual a paisagem social gaúcha e brasileira mudava rapidamente, com a inserção de novos atores e a intensa povoação de espaços até então não demarcados ou dos quais ninguém havia se apoderado, esses encontros do passado, ora pacíficos, ora muito traumáticos e violentos, conformaram o panorama contemporâneo. E é para contribuir no sentido de esclarecer quanto ao papel real desempenhado por tantos povos que o livro de Dominga e de Camargo é tão oportuno e relevante.

Além do resultado de suas pesquisas, os autores agregam entrevistas com pesquisadores, professores e lideranças, repercutindo informações disponíveis sobre o passado, mas salientando a importância de olhar de forma crítica o presente. Afinal, manter na sombra personagens que viveram e coexistiram nesse espaço social (o qual, vale citar, até então era o seu, no caso dos indígenas), e não iluminá-los pela via do conhecimento, seria promover a injustiça duas vezes: ontem e novamente hoje.

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Ficha

Invisíveis: o lugar de indígenas e negros na história da imigração alemã, de Gilson Camargo e Dominga Menezes. São Leopoldo: Carta, 2024. 208 p. R$ 62,00.

Em Santa Cruz do Sul, a obra pode ser adquirida na Livraria e Cafeteria Iluminura. Em Porto Alegre, terá lançamento na Clareira, na próxima sexta-feira, dia 18, e também na
Feira do Livro, no dia 13 de novembro.

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