Produtores de leite de Rio Pardinho, no interior de Santa Cruz do Sul, suspenderam as entregas à empresa Latvida, de Estrela. Eles alegam que os pagamentos estão atrasados desde agosto. Diante da situação, a maioria passou a trabalhar com outro estabelecimento.
Um dos que demonstram insatisfação é Cleo Schulz. Ele conta que trabalhou quase uma década com a empresa e, antes das enchentes, costumava fornecer até 800 litros de leite por dia. Mensalmente, o pagamento ocorria no dia 10. Contudo, em agosto, atrasou dois dias. “Não era algo normal”, afirmou.
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Schulz questionou os representantes da empresa se o pagamento seria adiado no mês seguinte, pois havia investido na produção e precisaria do recurso. Segundo ele, a explicação foi de que o processo seria normalizado em setembro.
Contudo, no dia 10, o dinheiro ainda não havia entrado na conta. “Nos mandaram mensagem de texto afirmando que iriam nos pagar dia 13. Porém, não foi pago.”
Após uma semana sem garantia, muitos produtores santa-cruzenses optaram por suspender o fornecimento à Latvida. “Ela sempre nos pagou certinho, sem atraso, mas agora perdeu a credibilidade”, afirmou Schulz. No dia seguinte à interrupção, decidiram firmar contrato com a Lactalis.
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Os santa-cruzenses cogitaram acionar a Justiça contra a empresa. Antes, reuniram-se com os representantes da Latvida, que ofereceram uma proposta para continuar a entregar o leite, mas ela não foi aceita. Conforme Schulz, as negociações com a Latvida prosseguem. “Vou receber um valor mensal e desconto na compra de uma ração. Talvez para os outros será diferente.”
A diretoria da empresa informou que os débitos estão sendo negociados junto aos produtores de leite. Em nota, justificou que o atraso no pagamento decorreu da não renovação do fomento mercantil junto às instituições financeiras. Isso ocasionou um processo de reestruturação, com mudança na operação e na gestão financeira.
Situação que compromete a manutenção da atividade
Produtor de Rio Pardinho, César Gressler, 54 anos, fornecia leite à Latvida há pelo menos cinco anos. Diariamente, entregava de 800 a mil litros. Segundo ele, a empresa sempre costumava pagar em dia. “Não era incomum depositar até antes”, reforçou.
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Contudo, tudo mudou após o primeiro atraso, em agosto. “Na primeira vez entendemos, porque tem momentos que não dá. Alguns dias depois já recebemos. Só que em setembro atrasaram e ainda não pagaram.” Diante da situação, optou por trabalhar com a Lactalis.
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Gressler alegou que não é a primeira vez que passa por uma situação semelhante. Há cerca de uma década, uma empresa de leite ficou dois meses sem pagar. “Entramos na Justiça e até hoje não vimos a cor do dinheiro.”
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E assim como aconteceu no passado, acredita que não irá receber nada novamente. “Somos tratados como miseráveis. E aí, qual ânimo ainda temos para permanecer na atividade? Não há condições”, desabafou.
O que diz a Fetag
O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Zanetti, afirmou que foram realizadas tentativas de contato com a indústria, mas sem êxito. “Não sabemos qual é a situação da empresa, mas parece um filme que se repete, não com essa empresa, mas de outras que ocorreram no passado. Enfim, quem paga essa conta sempre é o produtor.”
Zanetti, que também é o diretor responsável pela cadeia do leite na federação, afirmou que a Lactalis está disposta a pegar o leite da Latvida. “Inclusive dando uma bonificação ao produtor, para pagar o valor que a Latvida ficou devendo. O que é uma medida plausível e uma alternativa.”
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