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elenor schneider

No universo da fofoca

Existem alguns espaços sociais basilares para aparentemente manter equilibrada e saudável a sociedade. Neles, o exercício indispensável é praticar a fofoca, mecanismo que revela a frente e o verso de uma cidade ou de pacata vila do interior. Atrás de todo mexerico se esconde um sujeito indeterminado – dizem por aí que… Nunca se sabe quem riscou o primeiro palito, mas o ato pode acabar com a floresta inteira.

O fofoqueiro é como um ímã, atrai os curiosos com uma energia indescritível. Quando começa “não sei se vocês sabem…”, a galera se gruda nele como moscas no melado. Na sequência, vem alguma narrativa dúbia, repleta de incertezas e conjeturas, evocando alguma testemunha obscura e, em geral, inexistente. No entanto, falando com firmeza, o fofoqueiro procura convencer os seus ouvintes a comprar a ideia que está ofertando a preços digamos até módicos. Parece que faz parte do ser humano, de um lado criar um caldo apetitoso, de outro, beber avidamente dessa água irrecusável.

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Há pessoas que não conseguem viver sem se meter na vida dos outros. O olhar do fofoqueiro é sempre para fora, para longe, nunca para dentro de si mesmo. E quando garimpa uma novidade – uma gravidez inesperada, um casamento a perigo, um namoro clandestino, uma empresa prestes a falir –, vira uma panela de pressão. Caso não consiga liberar o vapor, vai explodir. Espalhada a fofoca, o coração se aquieta e na consciência do enxerido desponta a frase: fiz a minha parte!

De certa forma, o fofoqueiro se considera pessoa importante e necessária à comunidade, pois acredita estar contribuindo para o bem-estar de todos. E se diferencia do mentiroso, quase sempre conhecido como tal, e até se tornando figura hilariante, cômica. Suas histórias se esvaem como fumaça, as do fofoqueiro queimam como um cerne inacabável. O bisbilhoteiro sempre almeja ver o circo pegar fogo.

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Quando, num determinado ambiente, se reúnem várias pessoas, em geral desocupadas, cada uma dominando uma parte do assunto, a coisa toma proporções inimagináveis, incontroláveis. Ao final, está criada uma história capaz de implodir a cidade, não restando um cidadão sequer para desmentir o falso universo gestado nos porões da boataria.

A fofoca não escolhe gênero nem idade. É falsa a conclusão de que mulheres fofocam mais do que os homens. Estes, aliás, quando invadem essa seara, provocam estrago maior, mais letal. Transmitir sem questionar se é verdade – e principalmente não sendo – pode manchar a integridade moral das pessoas de forma irreversível. Saber quando uma fofoca vira maledicência deveria fazer parte da formação do mexeriqueiro. Nem sempre ele percebe que a fronteira que separa essas duas primas é muito tênue, embora ambas tenham o mesmo efeito de letalidade.

A fofoca é um jogo sem vencedor, sem troféu, no entanto é impossível imaginar um mundo sem a sua presença. O fofoqueiro só é feliz fofocando. Terminado o exercício, com o coração em paz, a consciência leve e satisfeita, o fofoqueiro vai para casa. Antes, recarrega as baterias, acende o olhar, aguça os ouvidos, porque, se quer ser um profissional respeitado, que não apareça na próxima semana sem um novo prato para servir. E, posta a mesa, não faltarão convidados sedentos e famintos.

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