A primeira definição que meu dicionário traz diz que laço é nó que se desata sem esforço. Entre outras, também diz que significa aliança, vínculo, união. Um gaudério fiel, ou distraído, pode pensar que estarei escrevendo sobre aquela corda de couro trançado para aprisionar animais. Mas quero mesmo abordar o tema conforme o segundo conceito, laço como intermediário entre pessoas, que as aproxima, as mantém unidas pelas mais diferentes razões e circunstâncias.
Começamos a vida estabelecendo relações. O primeiro contato é com a mãe, em geral o mais forte, o mais duradouro, o insubstituível. Depois surgem os mais variados grupos dos quais nos aproximamos, alguns por pouco tempo, outros por uma eternidade enquanto dure. No grupo familiar, vêm os irmãos, os avós, os primos, os tios; na creche, aparecem colegas desconhecidos logo mais adotados como amigos.
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Na escola, encontramos as primeiras pessoas, fora da família, com as quais selamos pactos de amizade muitos dos quais por toda a vida. Convivemos ali com os mesmos colegas por longo tempo, criando laços que perduram, que acabam fazendo parte de nossa constituição. Amigos de verdade são pedaços de mim, são pedaços de ti.
Cativamos igualmente amigos na universidade, no trabalho, na igreja, no partido político, no sindicato, no clube, no esporte, em qualquer lugar de convivência onde possamos encontrar afinidades. Hoje, até temos a coragem de anunciar milhares de amigos na rede social, relação tantas vezes superficial, acidental, ocasional, interesseira, quando não pobre e desnecessária.
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Fico feliz, no entanto, quando localizo na mesma rede alguém que há anos não vejo, com quem não converso, mas me proporciona a alegria do reencontro, apesar dos laços fragilizados pelas distâncias. Quando o reencontro se dá ao vivo, tem o efeito das brasas sob as cinzas, se reacendem instantaneamente, com abraços perpassados de suave arrependimento pela involuntária perda afetuosa por tanto tempo instalada. Na verdade, a vida é assim mesmo, ganhar e perder amigos. Uns vão estudar fora; outros, trabalhar até em países distantes; outros esquecem as relações do passado e fazem questão de não reatar.
Na soma geral, a grande maioria das pessoas com as quais convivemos desaparece das nossas relações, congela nossos contatos, entra no rol dos nossos laços perdidos. Algumas rupturas são doídas, outras cabem na primeira definição acima, nós que se desatam sem esforço. E isso, em regra, naturalmente, seguindo cada um o rumo da sua própria história.
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Muitos laços são reativados ou mantidos vivos pelos reencontros das turmas, quase todos baseados nos tempos da escola, da faculdade ou do trabalho. Ao menos uma vez por ano seus integrantes se empenham em reunir os colegas que, com o decorrer da vida, vão ampliando e enriquecendo suas narrativas. Como praticamente em todas as instituições, esses eventos apenas permanecem ativos quando um líder os provoca e organiza. Se por algum tempo não acontecem, os laços se rompem ou se perdem para sempre.
Ninguém existe para viver na solidão. Ser excluído do seu grupo é pena dura demais para suportar. As mínimas relações aquecem o viver, amenizam momentos de angústia e sofrimentos. Se os nossos laços forem sólidos, sinceros, se forem perpassados de amor, de respeito, terão a graça da permanência, jamais serão laços perdidos.
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