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MARCIO SOUZA

Nossos ídolos não são os mesmos

A pequenina artista gaúcha que se agigantou nos palcos de todo o Brasil, Elis Regina, é sempre lembrada pela música Como Nossos Pais. “Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não… ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”, cantava a Pimentinha, como ficou conhecida. Correndo o risco de apimentar os debates atuais, atrevo-me a contrariar a histórica letra. Nossos ídolos já não são os mesmos – e digo nossos em uma referência ampla, pensando na sociedade como um todo.

É bem verdade que “meus heróis morreram de overdose”, como bradou Cazuza. Mas pareciam mais seres inatingíveis, pessoas que cresceram com anos de árduo trabalho e não com a frivolidade das redes sociais, em que amanhecem desconhecidos, no meio do dia são ídolos e à noite estão presos por alguma irregularidade, quando não um crime dos mais banais. Bem longe do crime perfeito, porque “crimes perfeitos não deixam suspeitos” – foram os Engenheiros do Hawaii que disseram. E o pior, garantem ser inocentes e apontam perseguição, porque são pessoas com opinião.

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Não me cabe julgar as atitudes dos ídolos. Para isso, temos juízes qualificados, polícia capaz de apurar as irregularidades cometidas e o Ministério Público comprometido com o seu compromisso de acusar com base em provas robustas, a fim de que seja cumprida a legislação.

O que lamento é a instituição de ídolos tão frágeis para uma geração que precisa tanto de bons conselhos, de orientação, de incentivo à criticidade. Seria exagero considerar tão fúteis as representações da atualidade? Vejamos: no passado, Martin Luther King; na atualidade: Donald Trump; no passado, Leonel de Moura Brizola, João Goulart, Ulysses Guimarães; na atualidade, Pablo Marçal, André Janones, Nikolas Ferreira; no passado, Elis Regina, Tom Jobim, Jair Rodrigues; na atualidade, Karol Conká, MC Cabelinho e MC Fioti; no passado, Bóris Casoy, Joelmir Beting, Lilian Witte Fibe; na atualidade, Nego Di, Deolane Bezerra; no passado, Jô Soares, Chico Anysio e Ronald Golias; na atualidade, Whinderson Nunes, Léo Lins.

E antes que alguém possa pensar que é apenas saudosismo ou exagero de seriedade, ressalto que a idolatria também pode surgir de banalidades, como a linda moça passando pela rua, mas que foi vista com olhos tão criativos, que virou uma das músicas mais tocadas e regravadas do mundo. O planeta “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela menina que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar”. Ou quando o cantor lembra “da moça bonita da praia de Boa Viagem. E a moça no meio da tarde de um domingo azul”.

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