Os moradores do 2º distritro de Vila Mariante, interior de Venâncio Aires, foram surpreendidos entre a noite de quarta-feira, 8, e a madrugada de quinta-feira, 9, pela força da água do Rio Taquari. A chuva que atingiu a região desde o início da semana fez o nível do rio subir e chegar à marca de 15 metros, quando o normal é 1,65 metro. A água invadiu casas e pontos comerciais em pelo menos nove localidades: Linha Chafariz, Mariante, Picada Mariante, Picada Nova, Linha Sertão, Travessão Mariante, Sanga Funda, Travessa Olaria e parte da várzea do Taquari Mirim. Mais de 1,5 mil residências foram atingidas. Além disso, 80 pessoas foram removidas, a maioria delas, encaminhada ao ginásio de Linha Mangueirão, onde uma estrutura com alimentos e agasalhos foi colocada à disposição.
O secretário municipal de Segurança Pública e coordenador da Defesa Civil de Venâncio Aires, Dário Martins, afirmou que em razão da rapidez na subida do nível do rio, uma força-tarefa teve de ser montada às pressas para auxiliar as famílias ilhadas. Além da defesa civil do município, um efetivo de 12 bombeiros de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul e Cachoeira do Sul auxiliou no trabalho, que teve início por volta das 22 horas de quarta-feira e se estendeu ao longo de quinta, de forma ininterrupta. “Estamos desde segunda-feira monitorando o local. Na quarta, passamos orientando as pessoas a saírem de suas casas, mas houve muita resistência. Somente à noite, quando o rio começou a subir, é que deu o pânico”, afirmou Martins.
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Além da ERS–300, principal acesso a Vila Mariante pela RSC–287, regiões adjacentes estão com entradas bloqueadas. O único meio de transporte para as localidades é o barco. Seis veículos – quatro do Corpo de Bombeiros e dois que pertencem a voluntários – percorrem as comunidades ilhadas.“Há casas com pessoas em cima do telhado. Outras têm idosos acamados e crianças de colo com água que já bate na cintura, dentro de casa. A dificuldade é muito grande, temos muita demanda e pouco barco”, explicou Dário Martins. Durante a tarde de quinta, uma equipe da Defesa Civil do Estado sobrevoou a região de Vila Mariante para distribuir colchões, travesseiros e cobertores. Itens indispensáveis de proteção contra a Covid-19, como frascos de álcool gel, sabonete líquido e máscaras, também foram entregues.
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Ginásio serve de abrigo
Uma estrutura montada pela Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social no ginásio de Linha Mangueirão atende 15 pessoas com refeições e agasalhos. Durante a tarde, colchões foram levados para o local em veículos da Brigada Militar e de outros órgãos.
A agricultora Rejane Heine, 51 anos, moradora da Travessa Olaria, foi uma das pessoas abrigadas no espaço. Viúva, a mulher contou que estava sozinha em casa e nada conseguiu fazer . “A água subiu muito rápido e ‘tapou’ minha casa. Perdi tudo, até meus remédios para pressão e colesterol ficaram. Saí só com a roupa do corpo.”
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Situação semelhante foi vivida pela vizinha, a dona de casa Márcia Soares, de 44 anos. Mãe de três crianças com idades de 5, 7 e 8 anos, ela chegou ao pavilhão por volta das 10 horas de quinta, tendo conseguido salvar pouca coisa dentro de casa.“Peguei umas roupas e cobertas e levantei alguns móveis, mas logo tudo já estava cheio de água.” As crianças foram levadas para a casa da enteada de Márcia. Já o marido ficou para trás para resgatar os animais.
Lajeado
A cheia do Rio Taquari provocou estragos em Lajeado. Cerca de 75 famílias foram abrigadas no Parque do Imigrante. Outros moradores que ficaram desalojados estão em casas de familiares. O número de residências atingidas ainda não foi contabilizado pela Defesa Civil. Diante da situação, o prefeito Marcelo Caumo emitiu um decreto de situação de emergência.
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Nível do Pardinho baixa e chega a 4,35 metros
O nível do Rio Pardinho, que estava em 7,38 metros na manhã de quarta-feira, começa a baixar e as famílias já retornam para casa. Por volta das 18 horas de quinta, a régua de medição instalada na Praia dos Folgados apontava 4,35 metros, como explicou o coordenador da Defesa Civil em Santa Cruz do Sul, tenente José Joaquim Barbosa. “Ele está acima do nível, que é de 45 a 90 centímetros, mas dentro do leito, não transbordou mais”, disse. Apenas em pontos mais baixos ainda há uma pequena quantidade de água empoçada.
Conforme Barbosa, se a chuva retornar nos próximos dias, há risco de uma nova enchente. “A água está descendo muito devagar, em outras ocasiões o nível já estava bem mais baixo neste momento. Então, se der uma chuva forte principalmente na cabeceira do rio, na região de Sinimbu ou Gramado Xavier, o risco de transbordar novamente é muito grande ”, afirmou.
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Procura por informações e preocupação com familiares que ficaram
É comum, após grandes volumes de chuva, o Rio Taquari transbordar e atingir pontos de Vila Mariante e imediações. No entanto, a cheia registrada nos últimos dias é considerada pelos moradores a maior em 30 anos. “É algo fora do normal. Perdemos a noção do volume de água, já que ultrapassou nossa régua adaptada para 13 metros”, disse o coordenador da Defesa Civil, Dário Martins.
Morador de Vila Mariante há pelo menos 12 anos, o marinheiro Antônio Carlos Brandão, 60 anos, que reside com a esposa e trabalha em Porto Alegre, tentava informações sobre a casa que estava em uma área ilhada. “Eu trabalho em Porto Alegre e cheguei agora à tarde. Minha esposa me ligou quarta à noite e disse que a água estava subindo. Como sempre teve enchente e logo baixava, fomos pegos de surpresa”, disse. A mulher foi resgatada pela manhã pelos bombeiros e está abrigada na casa de amigos do casal.
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Às margens da RSC–287, próximo à entrada de Linha Sanga Funda, o torneiro mecânico Adriano Schroeder, 32 anos, verificava de longe a situação da casa do irmão e dos pais. A água já cobria boa parte das residências. “Meu irmão já saiu, mas meus pais e meu avô de 94 anos, que residem na casa dos fundos, permanecem. O pai não quer sair, prefere ficar para cuidar dos animais. Eles têm cem cabeças de gado que são mantidos em um galpão”, contou. A preocupação também era com a ex-esposa e a filha de 9 meses, que residem na Travessa Olaria, um dos locais mais atingidos. “Elas moram na parte térrea de uma casa de dois andares que ficou submersa. Ficaram os móveis, o carro e tudo para trás.” Mãe e filha também foram resgatadas de barco. “Nunca tinha visto uma enchente deste tamanho”, afirmou.
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