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IMIGRAÇÃO ALEMÃ

Dona Josefa, a colônia que se tornou Vera Cruz

Foto: Alencar da Rosa

A comunidade de Ferraz ainda evidencia marcas dos antepassados, inclusive na arquitetura de algumas de suas casas

A chegada de um grande número de novos colonos em Santa Cruz do Sul por volta de 1857, resultado de contratos assinados pelo governo com companhias de imigração, levou à ocupação de novos territórios. Naquele ano, terras do Faxinal de Dona Josefa foram adquiridas pelo governo provincial e demarcadas para receber imigrantes alemães.

A partir de 1879, lotes começaram a ser vendidos na Dona Josefa, o que se estendeu por vários anos e em diferentes localidades. A colonização de Vera Cruz foi autorizada pelo presidente da Província, João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, e teve início em 11 de outubro de 1854, nas proximidades da Várzea do Quilombo (atualmente Linha Dona Josefa), com a chegada de quatro famílias e quatro solteiros.


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As áreas situadas na várzea do arroio foram medidas pelo diretor da Colônia de Santa Cruz, João Martinho Buff. Desde sua fundação, o município passou por várias denominações: inicialmente Faxinal de Dona Josefa, depois Vila Teresa, e finalmente Vera Cruz. Antes de se tornar um município, o território era o 2º Distrito de Santa Cruz.

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PARTE DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ ESTÁ PRESERVADA EM DONA JOSEFA

Na região norte, nos morros de Vera Cruz, os primeiros imigrantes alemães buscaram recomeçar suas vidas, afastando-se dos conflitos sociais que abalaram a Alemanha nos séculos 19 e 20. Em 2024, celebram-se os 175 anos de imigração alemã em Santa Cruz do Sul, a segunda maior região no Estado a receber imigrantes alemães, que se espalharam por áreas vizinhas. 


A localidade de Dona Josefa, situada no interior de Vera Cruz, representa um dos primeiros marcos da imigração. A região ainda preserva vestígios dessa época, incluindo monumentos históricos como a Igreja Imaculada Conceição, o primeiro templo religioso construído no município e, possivelmente, um dos primeiros fundados pelas comunidades germânicas no Vale do Rio Pardo. A igreja foi tombada como patrimônio histórico municipal em 25 de outubro de 2005.


O templo recebeu esse nome porque, antes de partir da Alemanha, os imigrantes adquiriram uma estátua de Nossa Senhora Imaculada Conceição, com a qual embarcaram no navio, prometendo fundar uma comunidade no local de chegada. A bênção da capela ocorreu em 1873.


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Nos fundos da igreja, localiza-se um antigo cemitério onde está sepultado, segundo documentos históricos, o primeiro imigrante germânico de Vera Cruz, Phillipp Limberger. Nascido em Trier, Alemanha, em 1827, Limberger chegou à região em 1850 e faleceu em 1888. Seu túmulo foi declarado patrimônio histórico do município em 14 de setembro de 1999.


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O processo imigratório trouxe consigo tradições, cultura e técnicas agrícolas fundamentais para o crescimento econômico de Vera Cruz. O trabalho dos imigrantes ajudou a estabelecer a base econômica da cidade, que continua a prosperar, especialmente no setor da fumicultura.

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Inventário foi entrave durante a colonização

O processo imigratório na região é estudado com profundidade pelas pesquisadoras Celeste Dummer, de 66 anos, e Marlise Diehl, 70. Após se aposentarem de suas profissões, dedicaram mais tempo para o assunto.
Marlise destacou a importância das picadas no processo de colonização.

Marlise Diehl, à esquerda, e Celeste Dummer dedicam-se a pesquisas | Foto: Ricardo Gais

Segundo ela, a região de Santa Cruz já contava com as picadas Velha e Nova, o que facilitava o deslocamento e a acomodação de imigrantes. No entanto, ainda havia espaços a explorar na região de Vera Cruz. “A ideia era abrir uma nova picada para acomodar mais imigrantes e facilitar o deslocamento das famílias, como em Dona Josefa, que chegou a receber  imigrantes de Rio Pardinho para a nova área.”


Já a professora Celeste Dummer aponta uma perspectiva sobre a importância da antiga estrada que hoje corresponde à ERS-409. Ela explicou que essa via foi crucial na circulação de mercadorias e pessoas, especialmente no período em que os portugueses chegavam do porto de Rio Pardo. “A Dona Josefa possuía grande parte do município, cerca de 800 hectares, exceto a região de Entre Rios. Dona Josefa faleceu em 1843 na sua fazenda em São Gabriel, e a documentação do inventário levou cerca de 20 anos para ser concluída, o que contribuiu para a colonização tardia de Vera Cruz, já que envolvia 60 herdeiros.”


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Além das questões relacionadas à imigração europeia, Celeste ressalta a contribuição significativa dos escravos que trabalhavam nas fazendas. “Eles cultivavam erva-mate nativa e criavam animais, conhecimentos que foram assimilados pelos imigrantes alemães, que eventualmente começaram a consumir o chimarrão.”

Linha Ferraz procura preservar a memória dos pioneiros 

A comunidade de Ferraz, uma das mais prósperas do interior de Vera Cruz, também mantém vivas as histórias e os monumentos do período colonial. Saindo da Estrada Linha Ferraz e ingressando no trecho de terra batida a partir do Mercado Schroeder, próximo à rodovia RSC-153, é possível observar um pequeno cemitério com apenas dois túmulos. Eles estão à margem da estrada de chão, com um pequeno cercado, mas as escritas nas lápides estão sem condições de identificação.

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O que foi possível observar é a data em que uma das pessoas foi sepultada: 1866. Segundo o site do município, os primeiros moradores da Picada Ferraz emigraram no ano de 1859 da Alemanha para o Brasil, e na sua maioria eram naturais da província da Pomerânia e alguns do Reno.

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Perto do campo de futebol sete de Ferraz, um monumento celebra o centenário da colonização da comunidade, entre 1859 e 1959. As tradições alemãs permanecem uma parte vital da identidade de Vera Cruz. Especialmente em Ferraz, onde grupos folclóricos, de danças e músicas típicas, continuam a celebrar a herança germânica, particularmente no Dia do Colono e do Motorista, comemorado em 25 de julho.

Emancipação política e criação do município

Após um século de colonização, a comunidade de Vila Teresa estava em pleno desenvolvimento. Em 1950, a região viveu um crescimento urbano significativo, com a agricultura formando a base sólida da economia local e impulsionando o crescimento de setores produtivos, como indústrias de tabaco e de bebidas.


A prosperidade de Vila Teresa estimulou a ideia de emancipação política. Em 1956 foi formada a Comissão Pró-Emancipação de Teresa, composta por Jacob Blész (presidente), Igo Adi Henn, Arno Hepp, Alvino João Schmitt, Norberto Otto Wild, Ary Ernesto Gruendling e Armindo Losekann, com Osvaldo Kurz atuando como secretário-executivo.

Nos morros de Vera Cruz, os primeiros imigrantes buscaram recomeçar suas vidas

A comissão reuniu documentos e realizou reuniões para preparar o processo de emancipação. No dia 21 de abril de 1958, um requerimento foi enviado ao presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, solicitando a criação do município de Vera Cruz.


Realizado em 30 de novembro de 1958, o plebiscito resultou em 1.198 votos a favor da emancipação, 424 votos contra, quatro votos em branco e 12 votos nulos. Em 30 de janeiro de 1959, a Lei Estadual no 3697 foi publicada no Diário Oficial, estabelecendo o Município de Vera Cruz. (Livros que serviram como fonte de pesquisa: Os colonos alemães e a fumicultura, de Jorge Luiz da Cunha, e Álbum dos 20 anos de Vera Cruz)

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