A notícia do falecimento do professor e historiador Jorge Luiz da Cunha, na madrugada dessa sexta-feira, pegou de surpresa e comoveu a toda a comunidade santa-cruzense e estadual. Afinal de contas, como mestre e profissional dedicado ao ambiente do ensino, dos estudos e do resgate memorial, ele fora um dos mais importantes interlocutores de toda a cena cultural e histórica no país, e mesmo no exterior, em temas como os da imigração alemã, da colonização europeia no Brasil e das culturas implantadas em pequenas propriedades na Região Sul, entre outras linhas de pesquisa. Jorge partiu tão precocemente, aos 65 anos, em um momento de vida no qual evidenciava a sua vivacidade, a sua inteligência, a sua sabedoria e o seu olhar intuitivo e crítico.
Assim, não há como toda a sociedade não lamentar essa perda, que se pode caracterizar de irreparável, pois, com o mestre e o historiador, apaga-se um conhecimento único, uma bagagem intelectual que a poucos é dado reunir. Com a Gazeta do Sul, em especial, Cunha firmara laços muito fortes de colaboração e aconselhamento, que se firmaram ao longo de décadas. Em diferentes ocasiões, atuara como consultor ou colaborador ativo na elaboração de conteúdos exclusivos. E não relutava em aceitar desafios e missões que, por vezes, exigiam dele agilidade em se ocupar de temas diversos a fim de redigir artigos ou ensaios, mesmo que estivesse às voltas com as suas constantes e concorridas orientações acadêmicas e a elaboração de artigos científicos. Se é de lamentar profundamente sua morte, ficam seus livros e artigos, para sempre referenciais e de leitura obrigatória, dentro e fora do Brasil.
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Como se evidencia em matéria na página 22 desta edição, a contribuição do professor Jorge fora valiosa também para a série Rumo aos 200 Anos da Imigração Alemã, que a Gazeta do Sul veiculou entre julho de 2023 e julho deste ano. Não por acaso, a primeira reportagem fora realizada em São Leopoldo, e Cunha acompanhara a viagem do jornalista Iuri Fardin e do fotógrafo Alencar da Rosa. Juntos, percorreram ambientes da colônia alemã pioneira no Estado. Posteriormente, Jorge esteve junto na viagem a Nova Petrópolis, e em outra ocasião recebera a reportagem para uma edição específica sobre sua formidável biblioteca pessoal, calculada em mais de 30 mil exemplares, um acervo de valor inestimável para o ambiente histórico e cultural de Santa Cruz do e do Rio Grande do Sul. Por sinal, a matéria veiculada nas páginas 18 e 19 desta edição, sobre Dona Josefa, decorre de uma sugestão pontual que Cunha passara a nossa equipe.
Por essa proximidade e por esse diálogo constante, não era incomum que colegas jornalistas da equipe da Gazeta do Sul conversassem com Jorge e trocassem ideias quase todas as semanas. Agora, fica um vazio de interlocução que nos entristece, nos dói e nos deixa, igualmente, enlutados.
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