O que faz com que as abelhas tomem a decisão de enxamear? Antes de responder, o naturalista belga Maurice Maeterlinck (1862-1949) observou, durante muito tempo, o comportamento das abelhas. Procurou compreender o formato hexagonal dos alvéolos de cera, o voo nupcial das rainhas, a distribuição das tarefas entre as abelhas e como morrem. À observação acrescentou a leitura de obras sobre as criaturas que encantam as pessoas desde os tempos imemoriais. Os ensinamentos que absorveu dos livros fizeram com que valorizasse ainda mais a observação pessoal. Logo percebeu que deveria se dedicar à gratificante tarefa durante o ano apícola, ou seja, da primavera ao inverno, contemplando os diferentes períodos da vida das abelhas.
O filósofo e escritor Maeterlinck, que chegou a ser distinguido com o Nobel de Literatura em 1911, foi além da descrição técnica. Como naturalista, soube perceber os movimentos e sons, a comunicação e os sentimentos das abelhas, interpretando seus momentos de bem-estar, fúria, dores e solidão. Entendeu como poucos o sentido do coletivo, a ponto de sentenciar: “A abelha isolada, ainda que rodeada de víveres e na temperatura mais favorável, perece no fim de alguns dias – não de fome, nem de frio, mas de solidão” (In: A vida das abelhas, Ed. Pensamento: São Paulo, p. 20). Não é também a nossa morte o momento da solidão suprema?
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Porém, o que faz com que as abelhas enxameiem? Justamente, quando o mel e o pólen abundam; quando milhares de novas abelhas nascem; quando tudo parece transbordar em plenitude…Todavia, ao observador não escapou o fato de muitas das abelhas que voltavam de suas visitas florais terem que se abrigar do lado de fora da colmeia. Seria esse o sinal para a necessidade de enxamear? Procurar novos espaços para as abelhas que já não cabem na colmeia? Apenas isso? Ou, quem sabe, a um comando da rainha mãe todas as demais abelhas enxameadoras assumissem sua função disseminadora?
Sem desprezar os condicionantes quase evidentes, o dramaturgo e místico Maeterlinck considera que, “por fim, é o Espírito da Colmeia quem fixa o momento do grande sacrifício anual ao Gênio da Espécie: a enxameação, na qual um povo inteiro, chegado ao fastígio da prosperidade e do poder, subitamente abandona à geração futura o palácio, as riquezas acumuladas e todo o fruto do trabalho para ir longe dali, destituído de tudo e, na incerteza, fundar uma pátria nova.” (idem up. p. 27)
Quem de nós abandonaria sua morada bem constituída e no apogeu do resultado de seus esforços para recomeçar, em meio às incertezas, tudo de novo? Como entender a “heroica renúncia”, nas palavras do naturalista apaixonado pelas abelhas? Renúncia justamente em favor do futuro, da “fundação da cidade”, termo utilizado pelo ensaísta. Tomamos a liberdade de nos perguntar: até que ponto somos capazes de nos doar em favor de uma causa comum, de um futuro que nos exige sacrifícios e desacomodação? E se desse futuro depender a construção coletiva de uma cidade socioambiental? Cidade que não existirá sem o Cinturão Verde, o Rio Pardinho e suas interações multilaterais.
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ALEGRIA AMBIENTAL
Sair da zona de conforto nos angustia ao tempo em que nos conforta. Haveria futuro se as abelhas se contentassem com o mel já armazenado? Elas sabem que seu futuro depende de sua renúncia. Isso pode ser elaborado com alegria. Que o Espírito de Colmeia, nutrido pela diversidade, um dos pilares naturalistas, nos impulsione!
AGENDA EM DIA
Atendendo ao proposto quando da implantação do Movimento pelo Cinturão Verde, na última quarta-feira foi trabalhada pelo Conselho Gestor a proposição de redução do IPTU, a partir de 2026, enquanto instrumento preservacionista. Lembramos que em junho o Conselho se debruçou sobre o Programa Municipal Sistêmico de Proteção, em julho sobre a temática do Geoparque, enquanto em setembro a ênfase se dará sobre o valor hidrológico do Cinturão Verde. Pretendemos chegar em novembro com um organizado painel integrador das diferentes proposições.
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