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ROSE ROMERO

Não percamos a ternura

Longe vai o tempo em que discuti com minha amiga Luiza e, no calor do debate, perdemos o ônibus para Arroio do Tigre. Eu, 22 aninhos recém-chegados e um tiquinho em experiência de vida, resolvera professar minha simpatia pelo anarquismo. Ela, bem mais pé no chão, me contestava: “Acho o anarquismo muito cômodo”. Éramos, ambas, apaixonadas por política. Tanto quanto podiam ser duas universitárias militantes, razoavelmente privilegiadas e com sonhos revolucionários.

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Hoje, olho para trás e vejo que resta pouco da jovem que fui. Ainda espero que possamos construir um mundo melhor para todos. Mas deixei no passado a minha aparência de menina e meu encanto pela luta política. Os embates ideológicos me entediam um pouco. E agora que o planeta parece mais complicado e incerto, acompanho tudo com cautelosa esperança. E uma razoável dose de ceticismo.

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Não estou aqui para ser modelo de nada. Sempre achei, e continuo achando, que política é fundamental. Que somos todos seres políticos. Que dependemos de decisões políticas. E que fazemos política todos os dias, percebamos ou não. Não falta quem diga que “político é tudo corrupto”. Que “política é a pior coisa que existe”. São definições superficiais. Às vezes perigosas. Com nossa mania de criticar tudo e todos, esquecemos que os eleitos são resultado do nosso voto. E que, mal ou bem, o sistema representativo é o que de melhor conseguimos elaborar para viver em sociedade.

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Aliás, acho uma bruta coragem ser candidato, pôr o nome ao escrutínio público, dar a cara a tapa, correr o risco de ser reduzido a pó nas redes sociais. Tem gente esperta no meio? Tem, claro. E onde não tem?

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Feita a defesa, volto ao meu caso. Desculpem-me se escrevo sobre mim e minhas pequenas vivências. Não levo jeito para textos analíticos. Na verdade, nem os leio mais. Fico com os fatos, quando os encontro em meio ao excesso. Com eles, tiro minhas conclusões.

Integro o grupo de pessoas que teve suas expectativas reduzidas. Não porque tenhamos nos desiludido com a humanidade. Pelo contrário. Acho que apenas entendemos que o governo ideal é uma fantasia ingênua. Que não há lado bom e lado mau. Que certezas facilmente nos conduzem para o autoritarismo. E que direita e esquerda definem parte do nosso cotidiano. Mas para não perdermos a ternura, não devemos nos prender demais a isso.

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