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FORA DE PAUTA

Viva o espírito olímpico

Todas as edições dos Jogos Olímpicos são um deleite para aqueles que gostam de esporte – e também para os que, aparentemente, não se importam tanto. Isso porque, com a transmissão de diversas modalidades quase que em tempo integral e as atuais possibilidades de assisti-las pela televisão, computador e telefone celular, muitas pessoas acabam se interessando por esportes que não conheciam ou não têm o hábito de acompanhar ao longo dos anos. Afinal, quem de nós tem o costume de torcer efusivamente para que alguém consiga arremessar um peso o mais longe possível?

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Esse tipo de emoção só pode ser proporcionado pelas Olimpíadas e tudo o que elas representam. Há, contudo, outros sentimentos também demonstrados pelo torcedor brasileiro: a frustração e a incapacidade de aceitar as “derrotas”. Escrevo a palavra derrotas entre aspas porque não sou capaz de classificar como derrotado um atleta ou equipe cujos resultados lhes permitiram disputar o maior evento esportivo do mundo. Ora, todos os participantes são atletas de ponta em seus países e modalidades, e se prepararam à exaustão para aquele que pode ser o grande momento de suas carreiras.

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Ainda que o desempenho brasileiro nos jogos tenha melhorado significativamente ao longo das últimas edições, com expectativa de medalha em vários esportes e categorias, muitos insistem em chamar de pipoqueiros aqueles que não conseguem uma medalha de ouro ou mesmo um lugar no pódio. Muito popular no futebol, a expressão é empregada para designar os profissionais que sentem o peso da decisão e apresentam uma performance abaixo do esperado.

Os mais novos certamente não se lembram, mas no ano 2000, nas Olimpíadas de Sidney, na Austrália, um cavalo se tornou o grande vilão do esporte nacional. Trata-se de Baloubet du Rouet, montado pelo cavaleiro Rodrigo Pessoa. Na ocasião, durante uma prova de hipismo, o animal refugou em frente a um obstáculo e derrubou a estrutura, acabando assim com o sonho de uma medalha de ouro vista como certa para o Brasil, que encerrou aquela edição sem subir no lugar mais alto do pódio. Veja bem, estamos falando de um esporte praticado por pessoas abastadas e de um cavalo avaliado em milhões de dólares na época.

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Imagine, então, os atletas de modalidades individuais menos tradicionais e reconhecidas. Não é segredo e nem novidade para ninguém as dificuldades enfrentadas por eles no que diz respeito a infraestrutura para treinamento, equipe técnica e, sobretudo, patrocínio para custear equipamentos, viagens e o próprio sustento. Diante de todas essas adversidades, os brasileiros que alcançam índice olímpico jamais podem ser chamados de derrotados, pipoqueiros ou quaisquer outros adjetivos pejorativos.

Outro exemplo que pode ser citado é o da ginasta Daiane dos Santos. Esperança de medalha na edição de Atenas, em 2004, ela não correspondeu às expectativas e por muitos anos sentiu o peso da frustração da torcida brasileira. A participação dela, entretanto, abriu caminho para muitas conquistas posteriores na modalidade, coroadas com os ouros de Arthur Zanetti nas argolas, em 2012, e Rebeca Andrade no salto, em 2020. Com tudo isso, a reflexão que proponho é para que tenhamos mais paciência e respeito com os competidores brasileiros e manifestemos apoio diante de um resultado desfavorável. Se alguém precisa ser cobrado, é o Comitê Olímpico Brasileiro e o governo federal para que invistam mais e melhor na formação e desenvolvimento dos nossos atletas.

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