– E os tais relacionamentos abertos, o que você acha?
– Acho que são o futuro. Mas espero que eu já esteja morto.
– Hahaha.
– Eu ficaria paranoico.
– Comigo não deu certo.
– Você já experimentou?
– Sim.
– Como foi isso?
– Ele propôs sairmos sozinhos nas quintas-feiras. Cada um para um lado.
– Para transar com outras pessoas?
– Aí que está. Ele garantiu que esse não era o objetivo. Mas que poderia acontecer.
– E você aceitou?
– Aceitei.
– Por quê?
– Sei lá. Medo de perdê-lo talvez. Eu era romântica, achava que nos bastávamos. Mas ele queria “se sentir vivo”. Dizia que seria melhor para os dois.
– Quanto tempo durou essa experiência?
– Alguns meses. Um dia cheguei em casa e contei que havia dormido com alguém.
– Contou? Onde você estava com a cabeça?
– Mas não era uma aposta na liberdade? Achei que contar fazia parte do jogo.
– O que ele fez?
– Quebrou a mesa de jantar e me mandou embora.
– Bateu em você?
– Naaaaaaao. Somos intelectualmente civilizados.
– Essa história confirma minha tese de que ninguém quer transar com uma só pessoa.
– Ah, tá. E por isso você vai sair por aí dando vazão a seus instintos básicos?
– Eu não saio porque minha possessividade é maior que o meu desejo.
– Opa, mesmo tendo desejo você não transa com outras porque teme que sua mulher venha a fazer o mesmo?
– É claro. Teu ex foi arrogante. Achou que você nunca faria isso. Eu não sou assim.
– Ai ai ai.
– Isso não é tudo. Em primeiro lugar, para mim, vem o respeito ao compromisso tácito de fidelidade. É uma criação cultural, mas eu respeito isso.
– Vou tentar acreditar que esse é o motivo principal. Até porque é bonitinho. Você pode desejar outras mulheres. Mas respeita o pacto de fidelidade porque ama quem está com você.
– Na saúde e na doença…
– Será que esse negócio de relacionamento aberto funciona?
– Para alguns, sim. Tudo depende de tolerância.
– Aquela que tanto falta atualmente?
– A mesma.
– Então acho que essa mudança vai demorar para emplacar.
– Como eu disse, é o futuro. E até lá, espero já ter morrido.

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