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DIRETO DA REDAÇÃO

O jornal e a identidade comunitária

Há seguramente duas décadas (talvez mais) um debate se estabeleceu nas redações, e ao longo do tempo ganhou o espaço público: a da perspectiva do fim do jornal impresso. A certa altura, pessoas, quase sempre ligadas a empresas que forneciam equipamentos para o crescente mercado digital e da internet (dispostas a ampliar as vendas destes), vaticinaram que em questão de anos os jornais deixariam de circular no formato tradicional, em papel, e seria necessário se adequar com rapidez ao novo tempo.

Os anos se passaram, e alguns veículos de fato deixaram de ter jornal em papel, dentro e fora do Brasil, mas a verdade é que o fenômeno não se massificou, ou não ocorreu conforme pretendiam os que anunciavam o fim do impresso. Tomadas de decisão ocorrem sempre caso a caso (sendo a sustentação financeira do negócio um elemento-chave), mas a verdade é que, no País, veículos que tinham de fato relevância e fizeram o movimento de encerrar o impresso perderam muito a proeminência!

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O exemplo mais saliente é o do Jornal do Brasil: quando abriu mão do impresso e focou o digital, viu comprometida a sua enorme influência. Curiosamente, fã absoluto que sempre fora do JB, ainda hoje guardo de edições (impressas) do Jornal do Brasil. É alegórico: seu formidável conteúdo, atemporal, ainda hoje (tantos anos depois de seu fim) pode ser apreciado por quem o guardou. O Brasil segue debatendo a perspectiva dos jornais impressos. Em grande medida, quando um veículo deixa de circular no formato impresso é porque bem antes disso já perdera qualidade, deixara de cumprir sua missão, ou mesmo perdera a essência do que é fazer jornalismo.

Com isso, fica comprometida a identidade com a comunidade na qual está inserido e que deve representar. Não deixa de ser um debate um tanto estéril o que mira o fim do impresso. Quem pode saber o que o futuro efetivamente trará? Essa ameaça é para todos: para o impresso, para o digital e para o que mais houver. Mais importante e urgente é ocupar-se do presente, e das soluções que este exige. E, neste, os jornais impressos seguem relevantes e fundamentais como sempre foram.

O papel de um jornal não é apenas informar (uma das missões do jornalismo) e proporcionar leitura, mas, especialmente, “formar” e preservar a memória. O arquivo da Gazeta abarca quase oito décadas da história regional. A identidade de uma comunidade, de um Estado, de um País fica espelhada num jornal, cuja leitura pode, claro, ocorrer no digital (a versão mais moderna, por enquanto…), mas também no impresso. Segue assim no mundo todo: na Europa, jornais impressos regionais continuam plenamente estabelecidos, atuantes e influentes. Se em nações que ditam a vanguarda em tecnologias é assim, podemos acreditar que, num mundo conectado e digital, o que está no papel ainda faz todo o sentido. E precisa ser preservado e celebrado.

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