Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

DIRETO DA REDAÇÃO

A inadiável tarefa da contenção

As enchentes registradas ao longo de maio no Rio Grande do Sul obrigam os gaúchos a conjugar, e muito, um verbo em especial: conter. A tarefa promete ser hercúlea: conter encostas e morros, ameaçados de desmoronamentos e deslizamentos, que, como se deve compreender, independem de chuvas ou da instabilidade climática, podendo ocorrer a qualquer momento; conter o avanço das águas em várzeas; conter o assoreamento de arroios e rios e a queda das margens. Conter, conter, conter.

Conter, de fato, promete ser uma missão a ser empreendida por todos, e de longo curso. Mas entre as tantas contenções, talvez nenhuma seja tão inadiável quanto conter a ação predadora e depredadora do ser humano sobre o meio ambiente, onde quer que ele esteja e onde quer que vivamos. Afinal de contas, diante de tudo o que temos testemunhado, no campo e na cidade, esses estragos que se elevam a custos estratosféricos (e com um desgaste emocional igualmente incalculável) não são em grande medida decorrência de uma certa inconsequência na ocupação dos espaços naturais?

LEIA TAMBÉM: Åsne Seierstad nos leva para uma viagem pelo Afeganistão do Talibã

Publicidade

Próximo ou distante de cada um de nós, não constatamos, a cada dia, entre estupefatos e apavorados, árvores de décadas ou até centenárias, bosques, florestas, inclusive à margem de cursos d’água, sendo postos abaixo sem qualquer escrúpulo, pela sanha inconsequente e agressiva de indivíduos? O mesmo ocorre com vertentes, arroios, morros. Tudo vai abaixo, tudo desaparece. Argumenta-se que a sociedade atual é especialista em construir; na verdade ela é especialista mesmo em destruir a natureza.

Todos os seres vivos (todo o ecossistema) pagam o pato (inclusive o pobre pato da metáfora, que já nem se sabe onde anda, voa ou submergiu), mas apenas um deles é o que tem a sua digital bem visível na devastação. É um ciclo que já se estende por anos ou décadas, sob o eufemismo da “compensação”, “autorizada” por órgãos ambientais. Compensação para quem, afinal? Seria o crime ambiental que compensa? Como alguém vai compensar árvore adulta, floresta, arroio, com seus benefícios para o clima e a qualidade de vida, se ao eliminar a árvore e a floresta vai junto todo o ecossistema (pequenos e grandes animais e todas as espécies da flora que ali estavam estabelecidas)?

Para nossa infelicidade e para nosso pavor, hoje nos equilibramos (desequilibramos) entre estiagens e chuvas torrenciais (e chegamos a um final de semana em que mais precipitações estão previstas), cujas águas são canalizadas e escoadas sem a alternativa de infiltrarem-se no solo. Definitivamente, estamos incapazes de saber o que fazer com a água, que ora nos falta, ora nos arrasta. E os locais nos quais derrubamos árvores e bosques tratamos de besuntar com concreto, a um ponto tal que o planeta Terra há muito já está pedindo para ter seu nome mudado. Planeta Cimento estaria muito mais em consonância com o mundo como o deixamos.

Publicidade

LEIA OUTROS TEXTOS DE ROMAR BELING

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.